Passos Coelho disse em 23-7-2012, no Parlamento, num jantar com o grupo parlamentar do PSD: «encontramos uma diferença muito grande entre opinião pública e a opinião publicada».
O primeiro-ministro - ou o seu lippmannian (!?...) speech writer - distinguiu a opinião pública, que estaria a favor do Governo, da opinião publicada, que estaria contra. Para mudar a situação, foi desencadeada uma ofensiva sobre a opinião publicada. Para mudar a opinião publicada? Não, para mudar a opinião pública. A tal que estaria a favor...
Em vez do pau-e-da-cenoura de Sócrates, a sobremesa de Passos. Desta forma se explica a mudança coincidente de alguma opinião publicada. O motivo próximo da ofensiva governamental seria externo? A conjuntura internacional, a revolta sindical, o desconsolo dos empresários, o choque dos funcionários públicos? Antes fosse. Trata-se de um motivo interno: aquilo que o primeiro-ministro definiu, em 4-7-2012, ainda na mesma linha de Walter Lippmann como «não assunto»: a licenciatura especial de Miguel Relvas. Com uma barragem de proteção a um caso indefensável, o Governo fez de um «não assunto», o assunto principal. E, ao dar-lhe essa importância, caíu no próprio buraco que queria evitar. Mesmo que a sua tática seja a diversão do «não assunto», através da promoção de um estilo de miterrandismo melífluo do líder normalizado.
Numa equívoca linha lippmanniana - ou neomaquiavélica - que considera o povo ignorante, estúpido e volátil, julga-se a memória das pessoas como fraca e a sua opinião como irracional e volúvel, consistindo essencialmente em «não atitudes» (daí o «não assunto»...) ou opiniões manipuladas. Por conseguinte, entende-se que o povo esquecerá o caso Relvas, que será enterrado pelos assuntos supervenientes do quotidiano, pela peneira dos média dependentes e pela manipulação dos opinadores aliciados. A recomendação é que governe o Governo, através da «classe governativa», atualizada numa classe jótica, pós-académica, preparada para o exercício do poder nos bares e discos, uma elite pragmática de sorrisos falsos e esgrima florentina, sem capacidade sofrível de escrita, nem conhecimento de economia ou de direito ou de história, nem outra moral que não seja o poder. O povo, crêem, esquecerá. Todavia, Walter Lippmann, Gabriel Almond e Philip Converse, escreveram num mundo pré-internético, com média tradicionais mais ou menos sujeitos ao controlo da informação pelo poder.
Não é isso que nos ensina a história recente portuguesa. A perda de legitimidade moral de um Governo é causa de queda a médio prazo: como tenho dito, sem essa legitimidade moral de serviço não há paraquedas que segure o executivo perante os fracassos normais da governação. E agora não estamos perante circunstâncias normais, nem fracassos normais... Dir-se-á que a classe governativa nada mais espera do que um dia de poder atrás de outro, com os ganhos correspondentes do exercício, esperando o alternante oblívio do inventário, sabendo-se vários níveis acima de qualquer Peter. Mas a Pátria não tolera esse abuso e eu creio que o direito internacional tende para também não o tolerar.
Quer o Governo recuperar da vergonha? Reconheça os erros, arrependa-se e emende-se. Comece pelo «não assunto» e resolva-o. Em vez de o ignorar, o que só fará pior ao próprio e ao executivo - para lá da comprometida imagem internacional, como repetidamente se vê nas caricaturas do «Jornal de Angola». Depois, rompa a dependência do executivo face à Maçonaria, começando por indicar um não-maçon (ou não-consorte de maçon) ou um não-colaborador do socratismo para procurador-geral da República, renegoceie, como os espanhóis, mesmo (em vez do barquinho da carreira ou do adiamento dos descontos para as calendas gregas) as parcerias público-privadas, exponha o processo de privatização da EDP e REN, explique o caso da venda do Pavilhão Atlântico, exuma os esqueletos podres do socratismo e entregue-os ao poder judicial, cancele a promiscuidade com as grandes empresas oligopolistas, seja equitativo nos sacrifícios e puxe a população de novo para o trabalho. Verá que o povo reconhece o serviço. E, então, a opinião publicada aproximar-se-á da opinião pública. De outro modo, com a sua tática habitual, o único efeito que consegue é o desprestígio do coro dos opinadores seduzidos pelo apito das sereias do poder.
* Imagem picada daqui.
O primeiro-ministro - ou o seu lippmannian (!?...) speech writer - distinguiu a opinião pública, que estaria a favor do Governo, da opinião publicada, que estaria contra. Para mudar a situação, foi desencadeada uma ofensiva sobre a opinião publicada. Para mudar a opinião publicada? Não, para mudar a opinião pública. A tal que estaria a favor...
Em vez do pau-e-da-cenoura de Sócrates, a sobremesa de Passos. Desta forma se explica a mudança coincidente de alguma opinião publicada. O motivo próximo da ofensiva governamental seria externo? A conjuntura internacional, a revolta sindical, o desconsolo dos empresários, o choque dos funcionários públicos? Antes fosse. Trata-se de um motivo interno: aquilo que o primeiro-ministro definiu, em 4-7-2012, ainda na mesma linha de Walter Lippmann como «não assunto»: a licenciatura especial de Miguel Relvas. Com uma barragem de proteção a um caso indefensável, o Governo fez de um «não assunto», o assunto principal. E, ao dar-lhe essa importância, caíu no próprio buraco que queria evitar. Mesmo que a sua tática seja a diversão do «não assunto», através da promoção de um estilo de miterrandismo melífluo do líder normalizado.
Numa equívoca linha lippmanniana - ou neomaquiavélica - que considera o povo ignorante, estúpido e volátil, julga-se a memória das pessoas como fraca e a sua opinião como irracional e volúvel, consistindo essencialmente em «não atitudes» (daí o «não assunto»...) ou opiniões manipuladas. Por conseguinte, entende-se que o povo esquecerá o caso Relvas, que será enterrado pelos assuntos supervenientes do quotidiano, pela peneira dos média dependentes e pela manipulação dos opinadores aliciados. A recomendação é que governe o Governo, através da «classe governativa», atualizada numa classe jótica, pós-académica, preparada para o exercício do poder nos bares e discos, uma elite pragmática de sorrisos falsos e esgrima florentina, sem capacidade sofrível de escrita, nem conhecimento de economia ou de direito ou de história, nem outra moral que não seja o poder. O povo, crêem, esquecerá. Todavia, Walter Lippmann, Gabriel Almond e Philip Converse, escreveram num mundo pré-internético, com média tradicionais mais ou menos sujeitos ao controlo da informação pelo poder.
Não é isso que nos ensina a história recente portuguesa. A perda de legitimidade moral de um Governo é causa de queda a médio prazo: como tenho dito, sem essa legitimidade moral de serviço não há paraquedas que segure o executivo perante os fracassos normais da governação. E agora não estamos perante circunstâncias normais, nem fracassos normais... Dir-se-á que a classe governativa nada mais espera do que um dia de poder atrás de outro, com os ganhos correspondentes do exercício, esperando o alternante oblívio do inventário, sabendo-se vários níveis acima de qualquer Peter. Mas a Pátria não tolera esse abuso e eu creio que o direito internacional tende para também não o tolerar.
Quer o Governo recuperar da vergonha? Reconheça os erros, arrependa-se e emende-se. Comece pelo «não assunto» e resolva-o. Em vez de o ignorar, o que só fará pior ao próprio e ao executivo - para lá da comprometida imagem internacional, como repetidamente se vê nas caricaturas do «Jornal de Angola». Depois, rompa a dependência do executivo face à Maçonaria, começando por indicar um não-maçon (ou não-consorte de maçon) ou um não-colaborador do socratismo para procurador-geral da República, renegoceie, como os espanhóis, mesmo (em vez do barquinho da carreira ou do adiamento dos descontos para as calendas gregas) as parcerias público-privadas, exponha o processo de privatização da EDP e REN, explique o caso da venda do Pavilhão Atlântico, exuma os esqueletos podres do socratismo e entregue-os ao poder judicial, cancele a promiscuidade com as grandes empresas oligopolistas, seja equitativo nos sacrifícios e puxe a população de novo para o trabalho. Verá que o povo reconhece o serviço. E, então, a opinião publicada aproximar-se-á da opinião pública. De outro modo, com a sua tática habitual, o único efeito que consegue é o desprestígio do coro dos opinadores seduzidos pelo apito das sereias do poder.
* Imagem picada daqui.
este post é quase um manifesto político. Caro Professor, partilho as suas ideias, candidate-se e terá o meu voto.
ResponderEliminarparabéns por expor. é corajoso
O Relvas, ainda é m(s)inistro?
ResponderEliminarParabéns, Professor ABC.
ResponderEliminarO seu artigo, espelha o estado de espírito de muita gente que conheço.
Afinal o Sr. Professor já reconheceu, que o seu entusiasmo por esta rapaziada MEDÍOCRE, não tinha razão de ser.
O Tempo é um grande conselheiro!
Congratulo-me com a sua postura.
De Homens cultos, patriotas, de mente aberta e a exigir Justiça é que nós precisamos.
David Icke afirma que, de esquerda ou de direita, todos os partidos são iguais e mutuamente se protejem; já no Rotativismo foi igual. Eles obedecem a interesses inconfessáveis sem cuidar minimamente dos interesses nacionais.
Chamem-lhe teoria da conspiração ou o que quiserem, mas os factos vão confirmando o que muita gente não quer aceitar!
http://aquitailandia.blogspot.pt/2012/08/escritorios-de-advogados-brotam-fungos.html
ResponderEliminarCaro ABC,
ResponderEliminarJá somos dois a pensar da mesma forma. Haverá mais, certamente. Abraço.
Neste pais ser-se aldrabao e gatuno nao é condiçao relevante para nao poder ser ministro
ResponderEliminarbem-haja pelas palavras que espelham o que pensam os portugueses que se encontram injustiçados e que são muitos, em especial quando diz "seja equitativo nos sacrifícios e puxe a população de novo para o trabalho".
ResponderEliminarEste governo, em quem foi depositada esperança, começou mal e está a revelar-se um logro, quando começou por não ser equitativo nos sacrifícios
O FERRO-SÓCRETINISTA VESGO SAROLHO ANDA POR AÍ A DEITAR DE NOVO PATETICES PARA O AR.É TEMPO DE DEITAR CÁ PARA FORA TODOS OS DOSSIERS COMPROMETEDORES QUE TEMOS ÁCERCA DE UM DOS MAIS SINISTROS MEMBROS DO BANDO DE GANGSTERS QUE LEVOU PORTUGAL À BANCARROTA.
ResponderEliminarEis o que esta bela democracia nos trouxe:
ResponderEliminarhttp://tretas.org/VencimentoCargosPoliticos
de acordo e é assim que somos amigos do governo, não é como aquela massa de acéfalos que em espinho aclamava o menino de ouro e ele a horas/dias de ir doutorar-se para Paris!Apoiamos o governo mas com sentido crítico e não deixando repetir os erros do socratismo.
ResponderEliminarNem façamos como os Mentirosos que diziam que o Socrates,coitado,etc,não mandava nada.Depois,cascavam em Ferreira Leite e em todos os dirigentes do PSD.
ResponderEliminarHoje continuam com os mesmos vícios,tentando cavalgar a onda de descontentamento causada pela bancarrota socialista,branqueando o gang xuxa e fazendo tiro ao Coelho.
É preciso topete para virem dar lições de isenção e lucidez ao dono do blogue.
Vivem de ódios ideológicos,de mentiras e meias verdades.
Ridículos.
Tantas viúvas deixou Sócrates!!! Não conseguem esquecê-lo...a propósito de td vem Sócrates!!!Estamos entregues aos bichos como nunca estivemos...isso sim.
ResponderEliminarEsquecer o trafulha que nos arruinou o futuro e levou o país à vergonha internacional,enquanto enchia offshores?
ResponderEliminarQuerias!
Não esqueço,não.
E espero que ainda pague pelos crimes que cometeu.
Tem muitos pulhas a defendê-lo.Pudera,deu mama a muitos energúmenos.
Já viram aquele horroroso, e mesmo vergonhoso, mamarracho em betão do novo Museu dos Coches, a dois passos do setecentista Palácio de Belém, cujo actual ocupante deixou construir aquilo…? Quanto custa, e vai eternamente custar, esta pavorosa fantochada, abençoada pelo sempre mais medíocre Álvaro Siza? A empresa construtora chama-se Mota-Engil… Por acaso???
ResponderEliminarTem toda a razão. Aquilo é mais um pesadelo a aviltar a nossa Lisboa.
ResponderEliminarLadrôes, parem de espatifar o País!
ResponderEliminarParabéns Prof. ABC pela sua coragem e lucidez. Deceção atrás de deceção...Já não dá mesmo para acreditar em ninguém.
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