segunda-feira, 14 de abril de 2014

Cister, de novo

Um projeto de três ano e meio, finalmente edificado, neste sábado, 12-4-2014, na cidade de Alcobaça, oitocentos e sessenta e um anos depois da doação de D. Afonso Henriques e sua mulher D. Mafalda, a São Bernardo e à Ordem de Cister, do Couto de Alcobaça. Uma peça esplêndida do excecional escultor alcobacense Luís Santos. Um monumento doado à cidade pela Academia de Cultura, que fundei e liderei com a ajuda de muitos, e realizada com a ajuda fraterna de vários patrocinadores e diversas boas vontades, sem qualquer apoio público para além da preparação da rotunda para receber o monumento. Um marco a recordar o passado com olhos postos na projeção do futuro: o regresso da Ordem de Cister a um pequeno cantinho do Mosteiro de Alcobaça. Replico abaixo, e com indulgência dos leitores, o texto preparado no qual baseei o meu agradecimento na inauguração do monumento, presidida pelo senhor Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.



A.B.C., Monumento a São Bernardo, Alcobaça, abril de 2014


«Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria…». Nossa Senhora lembrou-se e Deus atendeu a nossa prece, mesmo nos momentos mais difíceis em que este projeto esteve bloqueado. Mas foi possível erguer esta magnífica obra de arte realizada à mão, durante quase um ano inteiro de esforço delicado, com máquinas mas também com escopro e cinzel, unicamente pelo excecional escultor alcobacense que é Luís Santos.

O trabalho realizado na formação e no desenvolvimento cultural local, pela Academia de Cultura, pelos membros da direção e seus órgãos sociais, a adesão dos seus sócios e os serviços dos seus colaboradores, no início da década de 2000, com 17 cursos de formação e a participação de centenas de alunos adultos e jovens e de distintos professores e conferencistas, é agora culminado com uma obra que fica.

Uma ideia minha já antiga de homenagear São Bernardo através de um Monumento, que propus aos membros da Academia de Cultura e que foi adotada e concretizada. Não como fim de um trabalho, mas como motivo – tal como na elevação de Alcobaça a Cidade, em 1995.

De 6.500 euros com que a Academia de Cultura partiu – uma espécie de cinco pães e dois peixes –, dentro da discricionariedade absoluta que esta tinha de dispor do seu dinheiro, e cuja proposta foi apresentada à Câmara Municipal em 28 de outubro de 2010, foi possível pedir e receber ajuda fraterna, congregar vontades e suceder, realizando um monumento que, de outro modo, custaria umas dezenas de vezes mais. Mas pedimos e deram-nos:
  • a pedra (para as duas peças do monumento), a energia, equipamentos e materiais, os serviços de corte e de movimentação, e o transporte, assegurados pela Mármores Vigário, com relevo para o senhor Rogério Vigário que, comigo, se tornou, na prática, co-administrador da edificação deste monumento;;
  • os projetores de iluminação e o serviço de grua pelo Crédito Agrícola de Alcobaça;
  • o báculo, pelo senhor Eng. Carlos Pinto de Abreu;
  • as inscrições pela Solancis, com custo complementado pelo Jornal O Alcoa;
  • as pontas das ferramentas pela GPA, do senhor Carlos Garrido;
  • a fotografia e a simulação gráfica pela FIP, do Dr. Vítor Ferreira;
  • o desconto da AuraLight (pelo Eng. Alberto Van Zeller) e da Idelgrua;
  • a consultoria histórica e iconográfica do Prof. Gérard Leroux;
  • o tecido da coberta pelo senhor Carlos Henriques; e a costura por outrem;
  • e o som pelo eng. Emanuel Manzarra;
  • e mais a colaboração pela Câmara Municipal, na pessoa do seu presidente Dr. Paulo Inácio, e do vice-presidente Hermínio Rodrigues, do eng. José António Francisco e dos funcionários, no arranjo da rotunda, onde este monumento, oferecido pela Academia, fica instalado. 
  • além da ajuda de outros amigos, que guardo in pectore
  • E da cooperação de outros fornecedores.

Acima de todos, no entanto, devo destacar o apoio firme, empenhado e indefetível, do Padre Carlos Jorge Vicente. E agora do senhor Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente que, por intermediação do nosso Prior, se dignou vir abençoar este monumento comunitário e que aqui produziu uma magnífica lição de história, destacando o papel fundamental de São Bernardo na consolidação e no desenvolvimento do País.

A Academia tem a honra de doar ao povo este monumento a São Bernardo, que é erguido aqui nesta rotunda da escola D. Inês de Castro, fisicamente longe, mas espiritualmente unido ao Mosteiro que São Bernardo traz na mão esquerda - e báculo de autoridade eclesiástica do Couto na outra. Fica agora a Câmara Municipal com a propriedade e a responsabilidade de proteção, manutenção e reparação, do monumento que doamos.

É hora de agradecer e, além dos patrocinadores e apoios, também: aos membros dos órgãos sociais da Academia de Cultura e aos seus sócios.

Para a Ordem de Cister, a Bernardo, seu primo por via materna, e abade de Clairvaux (Claraval), deu, em 8 de abril de 1153, D. Afonso Henriques, e sua mulher, D. Mafalda, o grande couto de Alcobaça (cerca de quatro centenas de quilómetros quadrados) à Ordem de Cister, em gratidão pela conquista milagrosa de Santarém e pela sua ajuda no reconhecimento da coroa portuguesa. À distância, é ele o fundador da Alcobaça moderna. Cerca de quatro meses depois, Bernardo falece. No olhar do seu rosto, que o escultor Luís Santos notavelmente representa, já se vê a nostalgia e o abandono da terra e o próximo trânsito para o Céu, de onde nos vê, com perdão dos pecados cometidos, com relevo máximo para a perseguição dos monges e a nacionalização do mosteiro, onde ainda não os deixaram voltar.

São Bernardo não nos deu apenas esta terra, pois foi determinante na obtenção da nossa Pátria, no reconhecimento político e no desenvolvimento do país. Alcobaça tornou-se um núcleo geo-histórico de Portugal, convertendo e dando sustento espiritual, difundindo cultura, introduzindo novas tecnologias e lançando a organização económica, fixando populações e criando bem-estar às gentes que aqui se abrigaram.

Esta é a hora de reconciliação dos alcobacenses e destes com a história de Alcobaça. Uma história mal contada e enviesada, escrita na época da perseguição religiosa, do confisco de mosteiros e de propriedades e da expulsão das ordens religiosas do séc. XIX e cuja mentira se prolongou no séc. XX - de monges algozes e de povo explorado -, omitindo fidalgos e burgueses, que também os havia… Negligenciando a ação civilizadora, de proteção e bem-estar do povo, de desenvolvimento económico e cultural. Uma história ingrata que agora harmonizamos. Da divisão artificial à paz ativa.

Alcobaça, consciência da portugalidade – e nomeadamente através da escrita dos seus grandes historiadores. Centro de oração e contemplação, mas também de irradiação do Espírito, da cultura e alma mater de ensino superior, e da tecnologia agrícola e pré-industrial. Uma Alcobaça que perdeu a matriz espiritual e cultural, mas que a pode começar a recuperar com a atribuição de um cantinho à Ordem de Cister no mosteiro enorme que ela mesma construíu e tudo poderá acolher. Sem exclusão, nem duplicidade.

Nesse sentido projetado, este Monumento a São Bernardo, é um sinal de esperança. Possa o espírito de concórdia e de persistência que orientou a edificação desta dádiva ser seguido.

Muito obrigado a todos.

António Balbino Caldeira

5 comentários:

  1. Amigo
    num mundo onde nada é definitivo além do socialismo e do estado de cadáver

    fico muito satisfeito por realizar esta justa homenagem a S. Bernardo

    a desinformação continua
    sobre o período em que a Igreja teve influência terrena

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  2. só muito recentemente ao estudar a alimentação do passado mais ou menos longínquo

    me apercebi que Clairvaux
    terá provavelmente origem no
    latim Clara vallis

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  3. Os meus parabens por esta concretização.

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  4. Muitos Parabéns! A Nossa Nação começou aqui e com a Benção de São Bernardo. Homenagem mais que merecida. Será que poderemos ter esperança de voltar a ensinar à nossa Juventude a Verdadeira História de Portugal? Assim o espero e são iniciativas como esta que poderão dar a saída para colmatar tanta ignorância maldosamente espalhada e difundida
    por interesses alheios à nossa Pátria.

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  5. Alcobaça, a de Aljubarrota, também.

    Quanto a Portugal, oremos pelo seu estado de defunto, numa Europa em estado comatoso. Uma Europa frouxa e aburguesada, que vive em panico, perante uma putativa próxima guerra.

    Mas que guerra terá a Europa se a Grã-Bretanha tem 88.000 soldados? Putin e os cossacos virão até ao Cabo Espichel, a não ser que o Amigo Americano se preste outra vez a atravessar a atravessar o Atlântico.

    Parabéns, Prof. Caldeira, pela obra. A luta terá que continuar, pois a cada dia as trevas se acentuam, e com elas, a miséria, a indigencia.

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