quarta-feira, 25 de maio de 2011

Efeitos e defeitos das sondagens



«Slip slidin' away
Slip slidin' away
You know the nearer your destination
The more you're slip slidin' away.»

Paul Simon, Slip Slidin' Away, 1975


Saíram ontem, 24-5-2011, duas sondagens: a da Eurosondagem (para a Rádio Renascença, SIC e Expresso), de Rui Oliveira e Costa, que passarão, em 24-5-2011, a ser diárias, e da Universidade Católica (para a RTP, Antena 1, DN e JN), mas a sua oportunidade.

A sondagem da Eurosondagem, com recolha de dados em 23-5-2011 - inquérito telefónico  a 769 pessoas, com margem de erro de 4,28% para um intervalo de confiança de 95% - apresenta os seguintes resultados que se podem confrontar com a anterior de 3-5-2011 que, todavia, era presencial e tinha maior amostra (2.048 respostas, margem de erro de 2,17% e intervalo de confiança de 95%):
  • PSD: 33,1% (-2,7%)
  • PS: 32,6% (+0,1%)
  • CDS-PP: 13,7% (+2,6)
  • CDU: 7,6% (-0,1)
  • BE: 6,6% (=)

A do CESOP da Universidade Católica, agora dirigido por Rogério Santos, com recolha de dados em 21 e 22-5-2011 - inquérito presencial a uma amostra de 1490 inquiridos, margem de erro de 2,5% para um intervalo de confiança de 95% - forneceu os seguintes valores, que se devem comparar com aquela publicada a 6 de Maio ( recolha de dados em 30 de Abril e 1 de Maio).
  • PSD: 36% (+2%)
  • PS: 36% (=)
  • CDS-PP: 10% (=)
  • CDU: 9% (=)
  • BE: 6% (+1%)

Estas sondagens da Eurosondagem e do CESOP contradizem a da Intercampus, divulgada em 23-5-2011 (recolha de dados entre 18 e 22-5-2011, telefónica, com 1.021 indivíduos na amostra e uma margem de erro de 3.06% para um intervalo de confiança de 95%). O fosso olímpico aberto pela Intercampus fechou-se num intervalo técnico da Eurosondagem e da Católica.

Na da Eurosondagem o PSD desce o que sobe o CDS e o resto fica na mesma. Na sondagem da Católica o PSD sobre 2%, o Bloco de Esquerda sobe um por cento e o resto fica igual. Estas sondagens são, então, contraditórias: na Eurosondagem com bastante maior margem de erro (4,28% contra 2,5%), apesar de um ou dois dias de diferença, o PSD cai quase 3%, enquanto na Católica ganha dois. Mas também são, as duas, contraditórias com a sondagem da Intercampus, que punha o PSD com um avanço de 6,4% face ao PS (ainda que esta realizada de 18 a 22 de Maio de 2011) - e também com a sondagem da Marktest publicada em 12-5-2011 (com recolha de dados entre 9 e 10 de Maio de 2011), que punha o PSD com 6,3% de vantagem face ao PS. Não podem, portanto, ter acertado as quatro empresas de sondagem.

A vitória de Passos Coelho no debate com José Sócrates, em 20-5-2011, tem um efeito eleitoral. Mas não constitui um veredicto de sufrágio. Em tempos de desprezo pelo patriotismo, de desemprego e de aflição com o poder de compra e com a solvência de compromissos financeiros familiares, as pessoas votam cada vez mais pelo seu interesse pessoal. Não votam principalmente como castigo, mas de acordo com a expectativa de melhoria das condições pessoais de vida. O medo de que a direita imponha uma austeridade terrível no curto-prazo e a perda de benefícios sociais não deve ser negligenciado - nessa circunstância fazer da campanha um catálogo de medidas punitivas significa atirar sobre os próprios pés. A mensagem deve ser a inversa: a protecção social máxima possível, bem como dos salários e das pensões, num ambiente de miséria social cada vez mais generalizada.

A sondagem da Universidade Católica sobre o desempenho no debate Passos-Sócrates de 20-5-2011, deu um resultado de 46,4% contra 33,9% (e 12,7% um empate) a favor do líder do PSD. Porém no blogue Margens de Erro, em 24-5-2011, no seu poste «O efeito dos debates», Pedro Magalhães coloca a vitória de Passos Coelho entre aspas ("vitória") - porque terão assistido mais pessoas do PSD do que do PS ao debate, que os não-PS-nem- PSD entendem que houve um empate, ainda que uma percentagem superior dos simpatizantes do PSD tenham dito que o seu líder ganhou - e justifica que, de qualquer modo, com base em HOLBROOK, Tom, Do Campaigns Matter?, Sage, 1996, o efeito dos debates é mínimo na preferência dos eleitores (1% em média a partir dos treze últimos debates norte-americanos - embora, se possa contrapor que o artigo «Debate effects», de 22-9-2008, que cita, também indica que o candidato Al Gore perdeu 3,5% em 2000). Mas Pedro Magalhães deveria ter justificado o efeito do debate principalmente, com os próprios dados da sondagem da Católica, que havia citado três dias antes, pois nela 32% responderam que o debate «contribuíu ou contribuíu muito» para definir o seu sentido de voto.

Não vale a teoria conspirativa. Pedro Magalhães já não é o director do centro de sondagens (CESOP) da Universidade Católica, desde o final de 2009. Consta por aí que Pedro Magalhães é casado com uma filha do primeiro casamento de Emílio Rui Vilar, actual presidente da Fundação Gulbenkian e antigo deputado pelo Partido Socialista, que é, desde 2002, marido de Isabel Alçada, actual ministra do II Governo Sócrates - Pedro Magalhães não é genro de Isabel Alçada. Não é legítimo concluir que esse facto familiar, por si, enviesa o seu trabalho académico ou profissional, nomeadamente enquanto dirigiu o centro de sondagens da Universidade Católica, actualmente dirigido por Rogério Santos (de quem me lembro de um debate promovido pelo Clube de Jornalistas, na RTP-2, em 9-11-2005 - em que fui anunciado, mas não convidado), nem sequer a sua opinião pública. Mais, para além do contexto, os homens não são absolutamente neutros, sendo normal e legítimo terem a sua preferência política. Tal como é normal que a opinião pública seja escrutinada.

Dizem-me que existem, por aí resultados que dão ao PSD 42% e ao PS apenas 31%, mas não vi evidência disso. Até esses números aparecerem, vivemos na ilusão do empate - o que resultaria de os bloquistas se refugiarem no PS e paradoxalmente uma parte do PSD no CDS - que evitará aquilo que chamo o «efeito Bernardino» («Por quem votas, Bernardino? Voto pela força») e a abstenção dos que não querem ir ao estádio ver perder a sua equipa que tão mal tem jogado.

Não adiantam as conjecturas, apenas os factos (os problemas) e as soluções:
  1. Passos Coelho já pediu maioria absoluta («maioria clara»...); Sócrates diz que o PS «está muito perto» de ganhar... Portanto, nas sondagens internas diárias, que o PSD tem e o PS também terá, o PSD terá vantagem relativamente ao PS, se pensarmos que os dois líderes, e os seus dirigentes, não são patetas.
  2. A SIC, anunciou, em 23-5-2011, no dia de publicação da prevista sondagem da Intercampus, que mostrou o PSD com uma aparente tendência de vantagem irreversível sobre o PS (os tais 6,4%), que iria publicar sondagens diárias até à antevéspera das eleições de 5 de Junho. A Intercampus realizará ainda mais três sondagens até às eleições.
  3. A paisagem do sector dos estudos de mercado em Portugal terá mudado em Março de 2011, com a conquista pela filial portuguesa da GfK (Gesellschaft für Konsumforschung), o grupo de pesquisa de mercado que detém a Intercampus, do valioso contrato de medição das assistências («audiências»...) televisivas no concurso realizado pela Comissão de Análise de Estudos do Meio (CAEM), um estudo que antes era realizado pela Marktest. Mas não encontrei relação política na atribuição do contrato pela CAEM, mas o preço mais baixo da GfK que permitiu que ganhassem o concurso.
  4. A Rádio Renascença alinha com o Expresso e a SIC, nas sondagens da Eurosondagem, empresa tradicionalmente ligada a sectores da Maçonaria e do Partido Socialista. A Rádio Renascença, emissora católica portuguesa, que é detida maioritariamente pelo Patriarcado de Lisboa, não deve andar mancomunada com a Maçonaria e com o PS (nem com qualquer outro partido): nem nas sondagens, nem na informação política, nem na opinião política através de comentadores residentes publicamente ligados à Maçonaria. Quando existirem condições internas, um dos trabalhos prioritários da Igreja portuguesa é limpar a Rádio Renascença e a Universidade Católica da influência maçónica (Grande Oriente Lusitano).
  5. A Dra. Graça Franco, directora de Informação da Rádio Renascença, fez ontem, 24-5-2011, uma intervenção no noticiário das 23 horas, a defender a antena dos valores apresentados pela sondagem da Eurosondagem, em profundo contraste com as anteriores da Marktest e da Intercampus, e a explicar que poderiam vir a ser diferentes nas próximas. E, direi eu, eventualmente também diferentes dos próprios resultados eleitorais, pois como se sabe a mudança de votos na véspera das eleições justifica qualquer valor muito distante apresentado nas sondagens anteriores. Ou a Renascença tem confiança nas sondagens da Eurosondagem ou não tem: se não tem deve mudar de empresa.
  6. O dirigente socialista Capoulas Santos divulgou no Facebook, com uma hora de antecedência, a sondagem da Universidade Católica para a SIC, Expresso e Renascença (Económico, 24-5-2011, 19:14). É conveniente à igualdade entre as candidaturas que estes dados não sejam filtrados previamente para o Partido Socialista.

Em conclusão: não é útil duvidar dos números das sondagens, é melhor trabalhar com eles; e é legítimo questionar os alinhamentos e a oportunidade dos media e dos institutos de sondagens. Os resultados ainda não são claros: importa reduzir vulnerabilidades e erros e explorar vantagens.

9 comentários:

  1. Caro Doutor ABC,

    Há algo que me ultrapassa.
    Dentro de algumas dezenas de anos Portugal só terá 6 milhões de habitantes. Muitos velhos e poucas crianças, uma espécie de aldeia portuguesa do nosso interior situada num pobre território da Península Ibérica. Sócrates irá condenar esse nobre povo a morrer de fome por que o PPC ou não sabe o que diz ou não quer governar com medo do fantasma de Belém.
    Doloroso se assim for, espero que não. Ainda espero que haja um milagre e que no fim se possa fazer justiça ao tipo que deu cabo de Portugal.

    Napoleão

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  2. A diferença de seis pontos, era preferível na última sondagem, que na primeira.... não vão pensar que está tudo feito e ganho....

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  3. A Eurosondagem não pertence ao Comissário politico do Partido Socialista na UGT. (Que também manda postas de pescada sobre a bola)?

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  4. Tal como o Almirante Pinheiro de Azevedo, "é só fumo".

    Nada mais. O Dr. Ferro vem falar num arranjinho PS/PSD. O dito "Engenheiro" mostra-se conciliador. Cavaco reforça a imagem de "verdade". Soares fala na possibilidade de uma coligação PS/CDS.

    Os Socialistas querem ficar no poder, ainda que tivessem que fazer uma Coligação com Hitler. Desde que ficassem no poder.

    Portugal está falido. No BCP, a maioria dos accionistas principais não foi ao aumento de capital. O Prof. Campos e Cunha demitiu-se do Banif. O Montepio diz que aquilo que a Tróka pede é impossível. O BES está a vender tudo, para ver se consegue sobreviver.

    Disto, só alguns sabem. As lojas estão às moscas. Os Centros Comerciais têm cada vez menos negócio. Os despedimentos vão pedalar.

    Sondagens? Dra. Graça Franco? São meros fait-divers. Vamos descer aos infernos. O tal de "Engenheiro" protegido do Policarpo será varrido. Não há dúvida. O Policarpo terá que ser varrido, ou pelos poderes divinos, ou pelos residuais católicos sãos.

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  5. http://www.peliteiro.com/2011/05/o-que-eu-penso-de-quem-vota-ps.html

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  6. JÁ HOUVE ALGUMA SONDAGEM REALIZADA ACERCA DO "EFEITO P.RODRIGUES" NA DERROTA DO PS ?

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  7. Penso que estará a ser um pouco injusto/conspirativo com Pedro Magalhães que leio com prazer há vários anos.
    Já agora, por curiosidade, no blogue dele fizeram um "concurso" de previsões, e a aposta do próprio Pedro Magalhães, a 26 de Abril, foi esta:

    PSD 37
    PS 30
    CDSPP 12
    CDU 9
    BE 7

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  8. Se os cozinheiros das sondagens não acreditam nelas, por que vou eu acreditar?!
    No ambiente da rua, a voz do povo, sente-se que que há vergonha de defender o Prima Dona!
    Os defensores piam baixo!
    Os "apãoniguados", os papamigalhas já só gagueijam que são todos iguais...que...que...!

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  9. Não vejo nenhuma conspiração nas empresas de sondagens - e acho que é inútil tentar descobri-la. Mas não deixo de notar a oportunidade das encomendas das sondagens, nomeadamente ds sondagens diárias da SIC.

    Sobre o Pedro Magalhães leia o que escrevi no poste e também sobre uma interessante entevista dele, hoje no i. Não há conspiração alguma no que escrevi. O facto familiar, que não pode ser omitido quando anda por aí à boca pequena, em nada modifica o juízo que faço do seu trabalho e do que escreve. É legítima a discordância com as conclusões e a perspectiva, mas não sobre o trabalho.

    Acho, ao contrário, que é pouco lido, para os insights muito úteis que transmite sobre o comportamento dos eleitores e a sua percepção dos partidos.

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