A propósito da tentativa de isolamento do juiz Carlos Alexandre, através de escribas e outros identificados, para fazer dele um cadavere eccellente, lembrei-me de um escrito meu aqui neste blogue, datado de 25-5-2012:
«tática usual da Mafia: marcar, sitiar, enfraquecer, isolar e, finalmente, eliminar (ver Stille, Alexander (1995). Excellent Cadavers, Vintage Books, 1995 e ainda o documentário de Marco Turco, «In un Altro Paese», de 2005). Nos anos de chumbo, a Mafia sicialiana nunca atacava alguém que tivesse grande apoio popular porque sabia que, nessa circunstância, seria muito difícil ao poder político proteger os mandantes e os seus interesses. Portanto, planeava, e realizava através de operacionais e antenas, uma campanha de erosão técnica, fundada no garantismo e no lançamento de dúvidas sobre a isenção dos magistrados.
Como tenho dito, até agora (o caso Rosalina Ribeiro é um precedente perigoso), o sistema não mata fisicamente porque o assassínio é impopular em Portugal - embora existam relatos (nos anos roxos e nos anos rosas) de tentativa de atentados através da provocação de acidentes. A eliminação cívica é o padrão. Outra regra é a mudança da própria lei quando os magistrados de primeira linha se mostram irredutíveis e as cúpulas não conseguem demover esses magistrados a contemporizarem com a tecnicalidade ou com a dúvida (ir)razoável - como aconteceu nos casos Nabeiro, Casa Pia e Furacão.
O problema, que o sistema não resolve com prontidão é quando a corda entre o submundo da mafia (em Portugal, financeiro) e o submundo político fica exposta e embaraça esse submundo político: o submundo político não consegue remover a ameaça, pois pode, ele próprio, estrangular-se...»
Alexander Stille, corresponde norte-americano em Itália durante os anos de chumbo escreve no seu livro supra, refere (p. 67) que o juiz Giovanni Falcone «acreditava que a mafia encorajava a difamação das suas vítimas para justificar as suas ações e diminuir a indignação pública sobre os seus assassinatos». Também o prestigiadíssimo general Dalla Chiesa, nomeado prefeito de Palermo com a promessa de plenos poderes nunca concretizados, numa manobra de diversão do poder político corrupto, e que sofreu essa mesma manobra de isolamento e assassínio tal como, anos depois os juízes Falcone e Borsellino, disse, na sua última entrevista, citada por Stille (p. 68), que a mafia mata o opositor poderoso «quando acontece esta fatal combinação: ele tornou-se demasiado perigoso mas pode ser morto porque está isolado». Lembra o ministro da Justiça italiano, Clelio Darida, que recomendou aos magistrados sicialianos que, em vez de tentarem eliminar a mafia, fariam melhor em contê-la dentro dos seus «limites naturais» (p. 76).
Um jornalista italiano conhecedor dos costumes da mafia, Antonino Calderone, citado por Stille (p. 357), explicou que Giovanni Falcone, «foi condenado à morte há muito tempo, mas a sentença não pode ser mais adiada». Também o juiz Carlos Alexandre foi condenado há muito tempo e parece que a sentença não pode ser protelada: o juiz é uma ameaça e o PS nunca teve tanto poder real. Todavia, ao contrário de Falcone, Borselino, Chinnici e outros, a Carlos Alexandre está destinada a lupara bianca, um assassinato cívico sem sangue, que os portugueses não gostam de ver sangue, ainda que tapem o nariz quando votam. Stille, p. 76, citando Ginsborg, Paul, 1990, The history of contemporary Italy, p. 375, lembra o aforismo do jornalista Indro Montanelli, que, em meados dos anos 1970, aconselhava aos italianos: «tapem o nariz e votem na Democracia Cristã»... Aqui, neste «pântano político», de que Guterres fugiu em dezembro de 2001, no início do caso de abusos sexuais de crianças da Casa Pia, também fede.
O sistema nunca esteve tão forte, como agora. Aqui também mandam gli amici degli amici. Costa é o hábil primeiro-ministro de um Partido Socialista dominado pela fação de ferro e pedra, com apoio fiel do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista. O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa está atrelado a Costa na caravana da esquerda. O PSD de Rio abdica do combate político e apoia o Governo Socialista, na expetativa de uma migalha de poder que nunca cairá da mesa do banquete; e o CDS continua dominado pelo lóbi homossexual que faz de Assunção Cristas uma líder de palha. Os militares são gozados e enxovalhados pelo poder político. Os média, na miséria financeira, servem o poder, e quando não o fazem são classificados como fascistas, até o Observador, apesar de estar agora reposicionado no centro-esquerda. O casal da ministra Francisca van Dunen e maçon Eduardo Paz Ferreira, fazem de Almeida Santos, antigo controleiro do PS para a justiça. E o poder vai sendo preenchido com raccomandati, evitando ousadias de mérito e independência.
Portanto, a tentação socialista (e dos aliados Bloco e PC) é de acabar com a independência judicial, na linha da nomeação da diretora do Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa, procuradora Fernanda Pêgo, e da nova procuradora-geral Lucília Gago. Como?
- Neutralização do juiz Carlos Alexandre, difamando-o e intensificando a perseguição profissional, e logo aumentando o quadro de juízes do Tribunal Central de Investigação Criminal ou extinguindo-o com a passagem das suas competências para o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa ou para outros tribunais.
- Nomeação de um diretor de confiança para o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), para substituir o incómodo Dr. Amadeu Guerra.
Cristo é cruxificado hoje! - pregava o padre Lereno na Rádio Renascença de outrora. Vamos andando, diz o povo, coxo, dorido e enojado. E nós quase sem tempo para lutar.
* Imagem picada daqui.
Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos media, que comento, não são suspeitas, ou arguidas, do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade e quando arguidas, gozam do direito constitucional à presunção de inocência até ao trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.
Olá António.
ResponderEliminarSó hoje, agora mesmo, li os seus últimos três escritos. Já devia ter vindo aqui há mais dias. Que maravilha. O que escreveu faz bem à alma. Os meus parabéns por essa sua enorme coragem e frontalidade e não menos patriotismo, que aliás lhe são reconhecidos desde há muito.
No Brasil existe o Grande Bolsonaro e o destemido e corajoso Juiz Sérgio Moro. Por cá temos o extraordinário e inexcedível Juiz Carlos Alexandre. Que Deus os proteja. Sempre.
E António, por favor continue a desmascarar os políticos que estão por detrás da mega corrupção que desde há quarenta anos tem vindo a alastrar como lepra, bem assim como a gigantescas fraudes económicas que ligam grandes empresários a políticos de topo, travando criminosamente o desenvolvimento do País.
E por último não se prive de denunciar os grandes responsáveis de TODOS os partidos - os que já cá não estão mas que tiveram tanta culpa quanto aqueles que ainda por aí andam vivinhos da costa, a viver que nem nababos e a rirem-se de todos nós, que eles tratam como autênticos lorpas... e se calhar até temos imperdoàvelmente vindo a sê-lo - que têm tido o poder nas mãos desde o 25/4, pelo estado deplorável em que se encontra o País.
Os seus nomes e apelidos têm que vir à luz do dia para que os portugueses fiquem a saber quem realmente foram e são os ladrões e criminosos que os têm vindo a roubar miseràvelmente e a assassinar o carácter de portugueses nobres e patriotas e a destruir um País que já foi Grande e Prestigiado em todo o Mundo até estes pulhas terem assaltado as rédeas do poder. Tudo terá que ficar bem registado nos futuros livros da História de Portugal.
Maria
E por cá o nosso(suposto representante máximo)"empelastro dos afectos pede um mundo melhor em tecno-foruns(e,pois claro,desbobina mais uma vez a cassete contra os "populismos" e afins-fobias não mencionando nada sobre o perigo globalista e o sistema tecno-big-brother chinês). Meu mais recente post https://planetadosprimatas1.blogspot.com/2018/11/um-admiravel-mundo-melhor.html
ResponderEliminarDevem ser protegidos o Juiz Carlos Alexandre, Dr. Amadeu Guerra, Dr. Rosário Teixeira, e todos os outros, que aguardam a passagem das trevas
ResponderEliminarHá sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não.
PUTUGAL!!!!!!!!!!
ResponderEliminar