O vento gelado da história

Mesmo que o motivo das propostas  seja a oportunidade política, louvo a decisão de António José Seguro, comunicada em 31-5-2014, do estabelecimento de eleição primária para a escolha do candidato do PS a primeiro-ministro, e ainda a de abrir essa escolha a simpatizantes (registados) do partido. E Seguro demonstrou ainda uma astúcia imprevista quando anunciou que iria marcar eleições para as federações distritais do PS e propor uma redução do parlamento a 180 deputados, para baralhar o jogo socratino e atemorizar vira-casacas.

Para quem se tem batido ao longo de já muito anos pela mudança no sistema político para a democracia direta, com escolha dos candidatos partidários e cargos internos, através de eleições primárias, é com expetativa que vejo essa decisão. Não há que temer a intrusão de adversários do partido na eleição, que se inscrevam como simpatizantes, pois têm de se registar com os dados legais e, tal como acontece nos EUA (por exemplo, republicanos a votar Obama para que Hillary Clinton não ganhasse a primária democrata, em 2008), esse efeito é diluído. Agora, para manter a coerência, aas eleições primárias devem ser alargadas aos candidatos do PS a presidentes de câmara municipal e aos candidatos do PS a deputados... E os demais partidos, devem seguir este exemplo, sob pena de perderem o comboio da mudança.

Mais ainda, pela mesma raqzão, a escolha do candidato a presidente da República também deve ser feita através de eleição direta. Assim, António José Seguro deve indicar o seu parceiro de ticket para 2015/2016, isto é, já que ele é o candidato a primeiro-ministro nas legislativas do outono de 2015, quem será o seu candidato a presidente para a eleição presidencial de janeiro de 2016. António Guterres?

E também António Costa deve dar a conhecer aos socialistas, e ao povo, quem é o seu candidato a Presidente da República. José Sócrates, que teme as eleições primárias no PS?!... Ou ele próprio?... E, nesse caso de saltar da cadeira de secretário-geral espécie de interni, para candidato presidencial, quem seria o seu candidato a primeiro-ministro: Fernando Medina, Paulo Pedroso?

E no PSD também Pedro Passos Coelho não deve esquivar-se à aplicação de eleições primárias na escolha do candidato a primeiro-ministro e a Presidente da República (e depois, por coerência, dos candidatos a presidentes de câmara e a deputados). Passos Coelho deve indicar proximamente se é novamente candidato a primeiro-ministro e quem é o seu candidato a presidente da República: Marcelo Rebelo de Sousa, Rui Rio, Assunção Esteves? Mesmo antes da indicação, como comissário europeu, de Paulo Portas, cujo CDS valia 2,4% na sondagem, de 26-5-2014, da Intercampus/TVI sobre intenções de voto para eleições legislativas - ou Passos, não nomeando Portas, arriscar uma queda do Governo se a dissuasão dos novos processos dos submarinos, torpedos e carros Pandur, anunciada em 30-5-2014 não bastar para o desimaginar...

António Costa viu-se forçado a disputar a liderança para secretário-geral do PS e, consequentemente, tornar-se, contra vontade, candidato a primeiro-ministro - por desconfiança de que Seguro não o apoiaria a ele na corrida para o palácio de Belém. Mas se Costa foi obrigado a esta guerra, não tinha de usar as operações suaves socratinas, como a de comparar, em 2-2-2014, através de José Borges, no seu blogue de candidatura, na qual ele próprio participa, com João Galamba, Isabel Moreira e tutti quanti (http://antonio.blogs.sapo.pt, entretanto, suspenso e renegado) o adversário Seguro com Hitler, o Rato com a Kehlsteinhaus e a atual direção do PS com o III Reich.

Fac-simile do poste de José Borges, de 2-6-2014 - via CM -

no suspenso blogue de candidatura de António Costa a secretário-geral do PS

Muito menos, Costa é obrigado ao remake das famigeradas operações negras socratinas, dos serviços comandados pelos mesmos, eventualmente dirigidas pelo organizador José Vieira da Silva e pelo spymaster Almeida Ribeiro - com base no ISCTE? -, de recondução das ovelhas socratinas tresmalhadas nas lideranças das federações socialistas e na comissão nacional do PS e do arrebanhamento de outras...

Tal como em aqui ao lado, onde o rei D. Juan Carlos abdicou hoje, 2-6-2014, para proteger a monarquia - envolvida na corrupção, na proteção judicial (como no nosso País o anterior governo) da infanta Cristina e do marido com o apoio do Governo do PP e no fausto imoral - e a unidade possível de Espanha, a poucos meses do referendo da Catalunha, também em Portugal são precisas medidas excecionais para servir os cidadãos.

Para resistir à avalanche da vontade dos cidadãos de mais democracia, só a transparência, a responsabilização e a livre escolha, nos partidos dos candidatos pelos militantes e simpatizantes registados permitirá salvar o Estado do caciquismo corrupto. Democracia direta, portanto.


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