sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Democracia direta e ativismo

A propósito de uma excecional reportagem - «Loosing Aaron», na Boston Magazine «Losing, de janeiro de 2014,  sobre o caso de Aaron Swartz. A maior pressão sobre os percursores da liberdade é um sintoma da decadência da democracia representativa/ditadura dos representantes caciques. A democracia representativa tem resistido, através das maçonarias e do controlo dos média tradicionais empobrecidos, à instituição de uma democracia direta com livre escolha dos representantes em eleições primárias para todo e qualquer lugar elegível, transparência, prestação de contas, responsabilização e maior número de referendos.

Abstraindo do caso de Swartz, a bofetada do poder (SLAPP) pretende reprimir e prevenir o acesso e a distribuição de informação sensível. Contudo, a força da tecnologia e a ânsia dos cidadãos irão prevalecer sobre a corrupção  e o arbítrio dos representantes. A democracia direta é inevitável.

Convinha que dentro dos partidos se organizassem correntes de defesa da democracia direta. O problema da corrupção da vontade popular pelos representantes não se resolve com a escolha desta ou daquela pessoa. Não é uma questão de pessoas: é uma questão de sistema. Porque, agora, esta ou aquela pessoa, qualquer que ela seja e por melhor que seja a sua intenção, é sujeita ao crivo prévio das plataformas de corrupção que controlam os meios - dinheiro para campanhas e acesso às televisões e jornais digitais. E se, nesta época, esta ou aquela pessoa, candidata ao lugar interno, não der garantias prévias de aprovação e de rejeição de determinadas medidas políticas, não terá meios de vitória.

Entendo que é uma questão de tempo até que a democracia direta prevaleça. Os sistema corruptos e autoritários não aguentam grande fluxo de informação e de comunicação. Mas o tempo que vivemos é o nosso tempo. Não é o tempo deles, o tempo dos outros. É nosso. Temos de resgatar a cidadania. A amargura tem de ser convertida em mudança. E a mudança carece de meios. Porque gente e ideias já existem.

Para a mudança do sistema político não bastam os blogues, nem a indignação lúdica das redes sociais. Sobre o slacktivism (ativismo preguiçoso) das redes sociais - e descontando a perspetiva ideológica -, veja-se o interessante estudo de Robert Muggah e Gustavo Diniz, «Black Bloc rising: Social networks in Brasil», de outubro de 2013, do Instituto Igarapé e da SecDev Foundation, publicado pela Open Empowerment Initiative. Segundo explica Gustavo Diniz, «no Brasil, a relação espaço cibernético/rua tende a se dar na direção da rua para o espaço cibernético», pois «o que acontece na rua é matéria prima para o que acontece na rede social, mais do que o contrário». Robert Muggah conclui que, através das novas tecnologias e especialmente das redes sociais, «um grande número de pessoas se associa temporariamente com o Black Bloc, mas a sua participação se manifesta mais como um “meme de protesto” do que como um compromisso de longo prazo».

Mais do que empenhar-se nos movimentos de protesto, muitos utilizadores das redes sociais (com destaque maior para o Facebook), ostentam o badge virtual e o like, eventualmente comentando na sua rede de amigos ou partilhando. Confortam-se com esses cliques, mas não saiem da sua concha virtual para a ação. Essa preguiça reduz a eficácia da ação de mudança porque descalça os organizadores, já sujeitos à censura noticiosa dos meios dominantes.

Não se pode contar a adesão fácil momentânea (o clique) como um compromisso regular e trabalho constante na divulgação de uma ideia e na promoção de um projeto. O furor dos eventos dificilmente passa para a atividade permanente. Portanto, importa criar os meios permanentes de atividade. Atividade em vez de eventos.

Transpondo, para a nossa circunstância, os meios permanentes de ação, que estão disponíveis para a mudança e são viáveis, são os jornais digitais. Nesta era de smartphones, tabletes, portáteis, wireless, bluetooth, um pequeno jornal digital não precisa de grande despesa de equipamento, nem de grande investimento em instalações (a casa serve...): apenas de um pequeno grupo de pessoas, em trabalho cooperativo, remunerados pela receita publicitária googleana e, a pouco e pouco, por outras. E nem precisamos de um só jornal digital: precisamos de vários, em concorrência de valor. Esses jornais digitais de segunda geração, com linha editorial assumida, com opinião franca, são fundamentais para a mudança de paradigma político e de Estado.


* Imagem picada daqui.

7 comentários:

  1. Vou deixar uma dica, quem sabe até poderá conversas e aprendizado sobre esta sua ideia de projecto.

    O site http://ucho.info/ de certa forma é o que procura - como conceito, creio. A mensagem politica será forçosamente diferente pois são países e realidades diferentes.

    Espero que a dica seja do agrado. Abr, Bruno

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  2. Ver para crer:

    http://www.dn.pt/politica/interior.aspx?content_id=3625175

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  3. E mais esta:

    http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/policias-e-ladroes/mortes-misteriosas-que-ensombram-a-pj

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  4. Muito bem, meu caro, muito bem.
    E mais não digo... em público, porque em privado, já disse, e várias vezes.
    Abç

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  5. Não estou tanto de acordo com vem da rua para dentro. Os exemplos e as justificações teoricas/filosoficas que são veiculados pelos media é que fazem que o rastilho tenha panopara alastrar. Basta ver a violencia na Venezuela para vermos como a propaganda exacerbada minam o tecido já de si fragil.
    Deus nos livre de demagogos tipo Brasil ou Grecia.

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  6. Carrapatoso e Relvas já se anteciparam, preparando o campo para a defesa da não derrota do PSD/CDS nas próximas Legislativas.

    Quanto à Democracia Directa, apenas uma única dica, vale a pena reler Antero e Eça, do século XIX, e perceber que a questão cultural é bem mais forte do que as tecnologias ou a educação tuga.

    Oeiras, o concelho com melhor nível de formação do país, votou no candidato-presidiário. Ora, que melhor resposta para a (im)possibilidade da Democracia Directa na tugolandia.

    Durante duas décadas, o biltre Soares deu como justificação, a falta de formação por culpa de Salazar. Quatro décadas depois de Abril, o argumento faliu, como Portugal.

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  7. De Salazarista a Socialista. Ou de como a vergonha não tem preço, é de borla.

    http://economico.sapo.pt/noticias/e-absolutamente-inaceitavel-que-se-acabe-com-o-estado-social_184980.html

    Adriano Moreira considera inaceitável o fim do Estado Social.

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