«Na situação em que estamos, em toda a Europa, era interessante que eles [BCE] comecem a fabricar a moeda, como fazem os americanos e os ingleses. A partir daí os problemas estão resolvidos.»
Mário Soares, Amarante, 16-6-2012, citado pelo Negócios
Ora aí está a posição socialista clássica e moderna: se o Estado é dono da impressora, imprima moeda para pagar as suas contas e dar aos cidadãos e empresas. Já Monti e Hollande discutiram, em 14-6-2012, em Roma, a ideia de uma «serpente monetária», em que os bancos centrais nacionais... e o Banco Central Europeu interviriam nos mercados, comprando obrigações soberanas quando o spread se aproximasse de determinado limite, e vendendo depois quando aliviasse. É o que os bancos centrais têm feito, mas o que parece estar implícito nesta ideia é de que o BCE o passaria a fazer em quantidade ilimitada...
A serpente no túnel, numa reevocação adaptada do mecanismo de 1972, desta vez aplicada a taxas de juro da dívida dos Estados, poderia ser virtuosa em tempos de estabilidade, jamais nesta agitação propiciada pelo desequilíbrio orçamental e aproveitada pela especulação bolsista. Quanto mais moeda eletrónica, for criada, menos valor ela terá e maior taxa de juro pretenderão, no médio-prazo, os investidores para comprar títulos de dívida dessa moeda, por muito que, no curto prazo, o banco central compre os títulos que apareçam no mercado e valorize, assim, esses ativos. Na prática, para lá do efeito comercial insuficiente na depreciação cambial competitiva (como se vê nos EUA, onde o défice comercial não se reduz significativamente), o easing dificulta a situação no médio-prazo e tende a ser muito pouco quantitative: sabe-se como começa, não se sabe quando acaba. Mas desconfia-se que acaba mal. Numa ruína zimbabweana.
A doença das contas públicas tem um diagnóstico conhecido: desequilíbrio orçamental e estagnação económica. Os socialistas - sob a capa do keynesianismo (que teoricamente não consente partir janelas para multiplicar o efeito económico da sua reparação...), paradoxalmente aliados aos monetaristas, na linha friedmaniana (Optimum Quantity of Money. Aldine Publishing Company. 1969. p. 4) de lançar dinheiro por helicóptero, retomada por Bernanke, em 2002 -, pretendem que o Estado injete liquidez na economia, para a reanimar, e, de caminho, pague as contitas pendentes e subsidie a dependência. Os austeritários (austerians - Paul Krugman, Appeasing the bond Gods, NYTimes, 19-6-2012, ver ainda Myths of austerity, NYTimes, 1-7-2010 e o seu livro de abril de 2012, End this depression now!) pretendem o reequilíbrio orçamental através da redução da despesa e a retoma económica pelo desagravamento fiscal. Pelo meio, uns e outros, jogam impostos sobre os povos exaustos para resolver o que a fraqueza moral e a promiscuidade não permite enfrentar na corrupção política com bancos e fornecedores, e preparam as exéquias, mais ou menos lentas, do moribundo Estado Social, cuja morte foi anunciada desde a institucionalização socialista da imunidade e da preguiça.
A maioria de esquerda que resultou das eleições legislativas francesas de junho de 2012, decorridas ao som da fanfarra socialista demagógica, deu novo alento ao socialismo. A eleição legislativa grega de 17-6-2012 contrastou com essa euforia, mas a perspetiva de um governo sistémico que deixe tudo na mesma pasokisse, tranquiliza a inquietação dos políticos corruptos europeus, e das suas hordas de servos e de beneficiários. A Europa não recebeu, por enquanto, a vacina trotskista grega, que talvez restabelecesse o bom senso nas outras paragens. O socialismo francês já não será uma vacina, mas a inoculação da própria doença através de uma dose pur sang. Depois do delírio, da ruína, da xenofobia, dos conflitos sociais, da divisão europeia, do retorno das reivindicações territoriais, virá novamente a guerra.
A resposta dos credores e investidores à degradação das contas públicas e à criação eletrónica (e depois física) de moeda é a desconfiança do caminho riscado pelo moribundo Estado Socia(ista): subida das taxas de juro da dívida dos Estados e a retração do investimento privado. Estamos num impasse tremendo: nem o Estado Social(ista) morre, nem a gente almoça.
* Imagem picada daqui.
Atualização: este poste foi emendado às 21:20 de 20-7-2012 e às 0:49 de 26-6-2012..
Mais um ladrão que supostamente é do nosso lado.
ResponderEliminarhttp://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=578333
O economista Miguel Cadilhe sugeriu hoje a criação de um novo imposto este ano em cerca de 4,0 por cento da riqueza do país e pago por todos os portugueses de uma só vez.
O ex-ministro das Finanças, que se dirigia ao Governo e ao parlamento num seminário sobre um ano de programa de assistência financeira a Portugal a decorrer no senado da Assembleia da República, indicou que seria «um imposto de 4,0 por cento sobre a riqueza líquida em 'one shot' [de uma só vez]», classificando-o como um «tributo de solidariedade» dos portugueses.
Sem adiantar muito mais sobre a forma de o colocar em prática, Miguel Cadilhe referiu que o encaixe deste imposto deveria ser aplicado na amortização da dívida pública.
Soares é o chefe da cáfila. Mas, no gangue há muito ladrão.
ResponderEliminarNunca esperei que este inteligente do Soares (dito Dr., da mula russa), fosse tão imbecil!
ResponderEliminarSuponho que o Dr abc, daqui a uns tempos, e como de outras vezes, vai engolir em seco estas palavras.
ResponderEliminarExcelente "post".
ResponderEliminarO Rui Pedro Soares continua a aguardar por um Juíz patriota.
Em Espanha foi assim:
ResponderEliminarhttp://www.libertaddigital.com/multimedia/galerias/el-despilfarro-espanol-en-30-obras/#aeropuerto_albacete.jpg
Miguel Cadilhe não propôs nada do que referiu o Anónimo de 19 de Junho de 2012 14:26.
ResponderEliminarMelhor fora que fosse ler com um mínimo de atenção e não por cima da burra.
Miguel Cadilhe "supostamente é do nosso lado", porra!, não quero o meu lado dentro de uma penitenciária, nem pensar nisso... Largo do Rato com ele.
ResponderEliminarfalta qualquer coisa na última linha: «Os socialistas, sob a capa do keynesianismo (...) - paradoxalmente aliados aos monetaristas, na linha friedmaniana (...) de lançar dinheiro por helicóptero...
ResponderEliminarSaúde.
Obrigado, Francisco.
ResponderEliminarAcrescentei mais uma vírgula, para evitar refazer todo o parágrafo. Na linha de «Eats, shoots and leaves», uma vírgula pode fazer toda a diferença. Mas o período está apenas... complexo. Não tive tempo na altura para o partir em orações mais pequenas. É: tenho de rezar mais...