Durante anos, mais do que as nossas vidas, famílias, carreiras e bolsos, permitiam, procurámos balas de prata, as tais munições eficazes que disparadas atingiriam o cerne do mal e limpariam a política, actividade mais nobre dos homens, e a própria sociedade civil do efeito, e da vergonha, desse mal.
Concluímos tarde, e em horas de amargura, que não existem balas de prata num sistema corrupto e que, mesmo que algum inventor genial e persistente a criasse e, ousado, a disparasse, jamais ela atingiria o alvo, por este ser avisado previamente do disparo ou porque uma mão invisível se interpunha - para além da circunstância normal de não ter culpa, pois não é culpado por ser político, tal como não deve ser inocente por ser político.
Os casos anteriores e os casos posteriores apenas confirmaram a conclusão tardia: não há balas de prata e há uma mão sistémica invisível.
Na sequência do caso do Fax de Macau, as grandes figuras da República Socialista Portuguesa, nas quais avultavam Mário Soares e Almeida Santos, preocupadas com a eventualidade da ousadia dos magistrados, de uma temida sujeição da República à fiscalização neutra do poder judicial, como na Itália da Tangentopoli que desmorou o sistema, rapidamente se procurou controlar o poder judicial. Isso foi feito, à esquerda e à direita - na direita também existiu o caso Costa Freire e outros -, com convite a magistrados para a ocupação de cargos políticos e administrativos, sem a maçada de longas horas de trabalho isolado e discreto, que a sua profissão acarreta, e com o plus da deferência e do direito a secretárias e motoristas, carro para todo o serviço, cartão de crédito, ajudas de custo, almoços e viagens, e empregos para a família.
Perante o perigo de escolhas incertas, como a de José Souto de Moura, e a eventualidade de processos de corrupção e outros, passou a haver um vetting profundo dos magistrados que iriam ocupar posições dentro do próprio poder judicial e uma co-optação interna de natureza sistémica, produzida pelos já integrados no sistema e facilitada pelas ligações políticas, algumas forjadas nos tempos da luta revolucionária. Assim se eliminou o perigo de uma república de juízes, que nas elites instaladas, à esquerda e à direita, ninguém queria, ninguém quer. Por cá, ao invés do «fascicolo virtuale» tivemos a «extensão procedimental»...
Esta tragédia portuguesa tem sido consentida - até agora... - pelo povo que também beneficia dos abusos de subsídios e fiscais e de salários e pensões, mais do que avalia poder o Estado dar-lhe. Mas, como dizia um grego, a fome vai resolver a promiscuidade: enquanto todos espremem a teta do Estado e dela tiram mais do que o crosto, a corrupção e outros crimes políticos são consentidos. Mas quando a fome vier, o crime violento subir, a hipoteca da casa for executada, a empresa de leasing vier buscar o carro, e não houver dinheiro para pagar a saúde e a educação, o consentimento popular dos crimes políticos vai diminuir drasticamente.
A conclusão a que cheguei é de que, nesta situação sistémica do País, a sanção máxima possível para os poderosos é o nome escarrapachado no jornal como arguido e a notícia dos factos, certificados pelos procuradores e juízes de instrução no processo. Engana-se quem pretende mais. Esta sanção não afasta os envolvidos de cargos e posições, mas torna o seu exercício político e mediático mais difícil. Todavia, esta conclusão não deve levar à desistência dos patriotas, mas à continuação da denúncia dos factos e à indignação face à promiscuidade política e financeira.
Actualização: este poste foi emendado às 2:24 de 12-11-2011.
Concluímos tarde, e em horas de amargura, que não existem balas de prata num sistema corrupto e que, mesmo que algum inventor genial e persistente a criasse e, ousado, a disparasse, jamais ela atingiria o alvo, por este ser avisado previamente do disparo ou porque uma mão invisível se interpunha - para além da circunstância normal de não ter culpa, pois não é culpado por ser político, tal como não deve ser inocente por ser político.
Os casos anteriores e os casos posteriores apenas confirmaram a conclusão tardia: não há balas de prata e há uma mão sistémica invisível.
Na sequência do caso do Fax de Macau, as grandes figuras da República Socialista Portuguesa, nas quais avultavam Mário Soares e Almeida Santos, preocupadas com a eventualidade da ousadia dos magistrados, de uma temida sujeição da República à fiscalização neutra do poder judicial, como na Itália da Tangentopoli que desmorou o sistema, rapidamente se procurou controlar o poder judicial. Isso foi feito, à esquerda e à direita - na direita também existiu o caso Costa Freire e outros -, com convite a magistrados para a ocupação de cargos políticos e administrativos, sem a maçada de longas horas de trabalho isolado e discreto, que a sua profissão acarreta, e com o plus da deferência e do direito a secretárias e motoristas, carro para todo o serviço, cartão de crédito, ajudas de custo, almoços e viagens, e empregos para a família.
Perante o perigo de escolhas incertas, como a de José Souto de Moura, e a eventualidade de processos de corrupção e outros, passou a haver um vetting profundo dos magistrados que iriam ocupar posições dentro do próprio poder judicial e uma co-optação interna de natureza sistémica, produzida pelos já integrados no sistema e facilitada pelas ligações políticas, algumas forjadas nos tempos da luta revolucionária. Assim se eliminou o perigo de uma república de juízes, que nas elites instaladas, à esquerda e à direita, ninguém queria, ninguém quer. Por cá, ao invés do «fascicolo virtuale» tivemos a «extensão procedimental»...
Esta tragédia portuguesa tem sido consentida - até agora... - pelo povo que também beneficia dos abusos de subsídios e fiscais e de salários e pensões, mais do que avalia poder o Estado dar-lhe. Mas, como dizia um grego, a fome vai resolver a promiscuidade: enquanto todos espremem a teta do Estado e dela tiram mais do que o crosto, a corrupção e outros crimes políticos são consentidos. Mas quando a fome vier, o crime violento subir, a hipoteca da casa for executada, a empresa de leasing vier buscar o carro, e não houver dinheiro para pagar a saúde e a educação, o consentimento popular dos crimes políticos vai diminuir drasticamente.
A conclusão a que cheguei é de que, nesta situação sistémica do País, a sanção máxima possível para os poderosos é o nome escarrapachado no jornal como arguido e a notícia dos factos, certificados pelos procuradores e juízes de instrução no processo. Engana-se quem pretende mais. Esta sanção não afasta os envolvidos de cargos e posições, mas torna o seu exercício político e mediático mais difícil. Todavia, esta conclusão não deve levar à desistência dos patriotas, mas à continuação da denúncia dos factos e à indignação face à promiscuidade política e financeira.
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