quinta-feira, 7 de julho de 2011

Virilidade

A decisão, de 5-7-2011, da agência de notação financeira Moody's (linque original só disponível após inscrição) de descer quatro níveis, de Baa1 para Ba2, nível de «lixo» (junk), a notação (rating) da dívida do Estado português, de colocar a dívida em perspectiva negativa (negative outlook) - o que pode vir a consistir em nova descida -, e de descer a notação da dívida do Governo português de curto prazo de (P) Prime-2 para (P) Not-Prime, torna mais necessário o défice zero das contas públicas no Orçamento de 2012. Como já se sabia, a solução escolhida para o segundo pacote de socorro financeiro à Grécia influencia muito a notação do Estado português.
Os dois motivos apontados pela Moody's para mais esta descida da notação de crédito do Estado português são:
  1. Risco crescente de que o Estado português venha a precisar de um segundo pacote de ajuda financeira, por não conseguir voltar, na segunda metade de 2013, a obter crédito a taxas razoáveis e a possibilidade de participação do sector privado nesse segundo pacote (tal como a agência teme que aconteça com a Grécia, que todavia, tem um rating de Caa1, bastante mais baixo do que Portugal).
  2. Preocupação crescente de que Portugal não atinja plenamente os objectivos de redução do défice (de 9,1% em 2010 para 3% em 2013) e de estabilização da dívida (em 2013) previstos no Memorando de Entendimento do Governo português com a a União Europeia (Comissão e Banco Central) e o FMI, de 17 de Maio de 2011, devido aos difíceis desafios com que o País enfrenta na redução da despesa, aumentar o cumprimento fiscal, atingir o crescimento económico e apoiar o sistema bancário.
No que concerne ao cumprimento das projecções de défice orçamental, a Moody's baseia a sua avaliação negativa em quatro factores:
  1. O programa do Governo pode ser difícil de executar em pleno na saúde, empresas públicas, regiões autónomas e autarquias.
  2. Redução da evasão fiscal demasiado ambiciosa.
  3. Menor crescimento económico do que o projectado e que pode ser agravado pela consolidação orçamental e desalavancagem dos bancos.
  4. «Possibilidade não-negligenciável» de que o sector bancário português careça de apoio governamental adicional ao que é previsto no Memorando de Entendimento.
Creio que a análise da Moody's falha nos factores a e b. Paulo Macedo vai vencer na saúde, como venceu na informatização fiscal e no combate à evasão fiscal (no tempo de Manuela Ferreira Leite); o Governo acelerará a venda de empresas públicas; travará o agravamento do défice da Madeira e dos Açores e provocará uma redução significativa da despesa das câmaras e empresas municipais (com a reforma do modelo de financiamento) e da despesa corrente, com a fusão de freguesias. Já agora, parece-me bem a decisão de Miguel Relvas (que vi, por aí em boato-balão) de não meter o País, nesta altura, numa nova guerra de supressão e fusão de municípios - ainda que, mais tarde, essa reforma seja necessária.

Quanto aos factores c e d: a recessão económica tem tendência a ser no curto-prazo mais profunda do que se prevê, pois o efeito da reconversão económica que a crise está a obrigar e as reformas do Governo só terão efeito agregado mais tarde; e o sector bancário português precisa de apoio extraordinário para se desalavancar. Essa desalavancagem dos bancos portugueses pode vir de Angola, através da compra de participações bancárias (a exemplo do caso Banif) e de injecções de capital, mas será bastante menos do que no passado. Justificarei em poste separado.

O Governo português não tem poder suficiente para determinar a política europeia. E a sua capacidade de influência, apesar da sobre-representação política (Durão Barroso e outros) é limitada pela pequena expressão demográfica  - 2,14%, correspondentes a 10.555.583 residentes em Portugal (Censos 2011) em 492.387.344 residentes na União Europeia (estimativa em Julho de 2010) - e ainda menor capacidade económico-financeira. Não pode, por isso, impor a criação de obrigações europeias, uma política monetária europeia expansionista (impressão artificial de euros, concessão de maior crédito aos Governos e entidades públicas e privadas e juros baixos como os do FED), sequer impedir a subida da taxa de juro (hoje, 7-7-2011, subiu a taxa para 1,5%, mas cobra 5,5% ao Estado português pelo empréstimo a três anos, enquanto tem financiado os bancos portugueses a um 1% de taxa de juro), ao contrário do Federal Reserve Bank dos EUA que a mantém em 0,25%.

O Governo português tem razão na crítica a esta decisão da Moody's. E trava-se nesta altura uma batalha feroz em torno da aceitação voluntária (à força...) de prejuízos pelos credores da dívida grega: se os credores são principalmente europeus, os credit default swaps (CDS), que seguram essa dívida, são maioritariamente norte-americanos. E, se os credores executarem os CDS (salvos sejam...), a perda é dos fundos de investimento e bancos norte-americanos... As agências de notação ameaçam classificar como bancarrota qualquer decisão sobre a dívida grega que signifique qualquer prejuízo actual ou futuro (obrigando os credores à manutenção das taxas de juro antigas...).

Porém, os mercados têm entendido que as decisões tomadas pelo novo Governo não chegam. Nesta manhã, a taxa de juro das obrigações do Estado português a três anos chegou aos 19,7% (na manhã de 23-6-2011, imediatamente antes da substituição de Sócrates a mesma taxa estava em 14,1%). A situação é gravíssima. Tem de haver virilidade para resolver o problema financeiro do Estado e económico do País. O ataque aos problemas importantes, impondo as reformas necessárias, é o caminho a tomar, para evitar que o Governo comece a ser submerso nos problemas urgentes e se quebre o impulso de mudança - e daí a necessidade de vencer a batalha da RTP.

Por conseguinte, o Governo português só tem uma via para evitar a bancarrota do Estado, que foi provocada pela corrupção e pelo despesismo do capital-socialismo socratista: a via soberanista, mantendo o euro. Trata-se de prever um orçamento de 2012 com défice zero, com uma redução drástica da despesa - nomeadamente, moratória nas grandes obras públicas, privatizações, eliminação do rendimento mínimo (e sua substituição por um programa de trabalho social e baixas por doença nos casos de incapacidade para o trabalho) e redução do subsídio de desemprego para seis meses de prazo máximo para encorajar o trabalho e erradicação dos abusos -, consequente da auditoria às contas públicas, responsabilização judicial dos dirigentes políticos pela ruína do Estado e barrela geral do Estado. Não podemos capitular - como o retorno ao escudo, sugerido pelo Prof. João Ferreira do Amaral, que, creio, era assessor do Presidente da República do discurso de 25-4-2003, Jorge Há-Mais-Vida-Para-Além-do-Orçamento Sampaio - nem deixarmo-nos ir na ilusão do resgate português pelos parceiros europeus, com uma poupança q.n.b. (que não basta).


* Imagem picada daqui.

11 comentários:

  1. O PGR já mandou processar as agências de rating.Deve ser ali para os lado do Largo do Rating.

    A razão para sermos colocados ao nível do lixo é merecida.
    Em vez de carregar sobre os inocentes,extingam as centenas de institutos onde se acoitam os boys e dêm o exemplo,sendo os governantes a gastar menos.Ponham a chusma das autarquias a ração de combate.
    Vão buscar os triliões que os nossos honestos políticos esconderam em Offshores e na Suíça.
    Mas para esse lado é que não vão.
    Vão agora e sempre chular os que em nada contribuiram para este descalabro.Os que trabalharam sempre para sustentar as suas famílias,sem ajudas do Estado.
    São esses que vão pagar esta ominosa factura.
    Venham falar de democracia,que eu já acredito.
    Porrada como na Grécia,não vejo outra saída.

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  2. Caro Prof ABC

    Não estou de acordo consigo, o governo Português não tem desculpa e, não é nenhuma conspiração!

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  3. Continua tudo na mesma... Só mudou o subsídio de Natal.
    O Prof. Marcelo R de Sousa veio dizer que eram necessários uns 90 dias para alencar institutos e fundações... Contratem a troika que os rapazes fazem essa tarefa em 5 dias, se não estiver já feita, prontinha a saltar da gaveta.
    Continua tudo na mesma...

    Porca miséria!

    Napoleão

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  4. Não entendo agora o espanto dos ultraliberais portugueses com as agências de rating?! são elas ou não um produto de uma Economia desregulada, que permite o vale tudo, offshores, especulação, aplicações financeiras duvidosas, exploração, injustiça?
    Agora é que querem travar a China? Então, deixem os mercados funcionar..........certo???

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  5. Então quando é que começam na prática as medidas da Troika? a redução das pensões acima dos 1500 euros? para quando? ainda falavam de Sócrates.

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  6. Isto tambem nao vai lá com estes que agora lá estão. Nao confio no Miguel Relvas nem 1 cm. Isto só la vai com uma junta de salvaçao internacional.

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  7. Independentemente das obscuras agendas das empresas de rating, o certo é que, com as medidas impostas pela Troika a Portugal, o país se vê impossibilitado de cumprir a curto e a médio prazo com o pagamento dos encargos da Dívida Pública. Aquelas medidas são de cariz recessivo e irão provocar seguramente mais recessão e desemprego. Não haverá assim crescimento económico nos próximos anos e, não havendo crescimento, não haverá condições aos pagamentos da Dívida.
    Quando, os economistas do sistema contestam a decisão da Moody’s do corte de rating a Portugal, não será tanto pela lógica da decisão mas pela sua oportunidade. Argumenta-se que os técnicos da FMI, do BCE e da UE avaliaram o país e impuseram um “memorando” que está a ser cumprido pelo novo governo pelo que não faz sentido, neste preciso momento, avaliar tão negativamente as condições económicas e financeiras do país. Contudo, não existe contradição alguma entre a descida do rating e o previsível resultado da aplicação das medidas da Troika. A descida de rating traduz as consequências da aplicação futura do “memorando”, enquanto as avaliações dos técnicos do FMI, BCE e UE e as medidas por eles impostas, tiveram como única preocupação proteger os credores de Portugal.
    Na verdade, o que preocupa a UE, FMI e BCE não será a correcção ou incorrecção da classificação da Moody’s mas o entrave que tal classificação causa na aplicação do governo das medidas impostas pela Troika. Isto é, a perturbação que poderá causar na aplicação do seu plano de salvaguardar os interesses financeiros das instituições financeiras credoras. O que a Moody’s fez foi desmascarar, por a nu, esta estratégia da EU, FMI e do BCE - salvar as oligarquias financeiras e desprezar o desenvolvimento económico e financeiro dos países em dificuldades. Quando o governo, o presidente da república, os economistas do sistema e os demais comunicadores nos pretendem fazer crer que Portugal “está no bom caminho”, eis que a Moody’s nos vem alertar de que o nosso futuro é mais recessão, mais desemprego e mais drama social.

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  8. Eu sei que a Moodys foi muito viril.
    Eu sei que ontem (no tempo do Sócrates) muitos diziam que as empresas de rating tinham razão, que não deviam ser diabolizadas, que não serviam como desculpa, etc. Hoje, porém, esses mesmos, mudaram drásticamente de discurso e passaram a diabolizar, a retirar toda a razão, a desculpar. Para mim esses mesmos estão agora a agir acertadamente. Ontem era a camisola política que os obrigava a assumir essas atitudes.
    Também já vejo muitos a dizer que o problema grego pode constituir um grande problema para nós. Ontem o problema era interno, nada tinha a ver com os outros. Estão, agora, a agir correctamente.

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  9. Claro que a culpa não está na Moody's, nem na S&P, nem na Fitch.

    Aliás, eles foram dados como culpados pela crise do subprime, porque não alertaram para a manipulação.

    As Agências de Rating limitam-se a defebder os interesses dos bondholders, que poderemos ser nós, cidadãos independentes.


    Quanto a Portugal, nada de novo. Apenas e só, o facto de que a Moody's tem toda a razão quanto ao futuro não cumprimento da diminuição da despesa. A comelar pela tal intenção do Relvas de não acabar com "n" muncicípios e Juntas de Freguesia da treta.

    O corpo está moribundo. Passos Coelho limitar-se-á a entregar a chave da loja a alguém. Quem? pois, parece que a Renfe vai pagar parte da despesa do troço de comboi Porto - Vigo.

    Pois, com passinhos destes, vai-se perdendo a Independência.

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  10. Concordando com o anteriormente exposto,as indemnizações do caso TGV devem ser alvo de investigação criminal.Foi tudo feito à pressa pelo gang socretino,temendo que quem viesse a seguir cortasse as pernas à canalha que lhe pagou as luvas.
    Sem justiça,Portugal nunca se libertará destes gangs do submundo,com avatares político/partidários.

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  11. Cavaco é um chefe de facção.

    Quando o país foi atacado por essas agências, calou-se.

    Agora, como é chefe do governo, tomou-lhe as dores!

    Miséria moral é o que estamos a assistir!

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