O debate de ontem, 29-12-2010 entre os candidatos à Presidência da República Cavaco Silva e Manuel Alegre (video integral), teve um resultado surpreendente.
A surpresa não veio da vitória do Prof. Cavaco Silva, que se aguardava, mas pela táctica, atitude e dimensão do resultado. Táctica de ataque, atitude enérgica e resultado esmagador. Os anos defensivos na Presidência da República tinham feito descrer muita gente da vontade e da energia do Prof. Cavaco Silva. Cavaco fora grande quando acreditou, rompeu e fez; e, como qualquer homem, encolhe quando abstém, resigna e estagna. Ora, o debate mostrou que Cavaco mantém a genica algarvia, apesar dos anos que lhe pesam, e parece ter vontade de liderar a reforma do País. Resta confirmar essa vontade depois da eleição, como o povo espera.
Além da postura de ataque, que nem sequer foi preventivo mas com o propósito de derrubar o adversário, o Prof. Cavaco Silva não vacilou na linha estratégica traçada. Assim, Cavaco não se comprometeu antecipadamente com a manutenção do Governo, manteve que o Governo falhará se o FMI vier, reservando a sua avaliação e decisão para essa altura. E, se lembrou que o Governo responde perante a Assembleia da República, não pôs em causa a sua liberdade de acção na dissolução do Parlamento.
No caso BPN, Cavaco Silva demonstrou que quem não deve, não teme: não cometeu qualquer ilegalidade ou irregularidade, nem procedimento ilegítimo, quando comprou acções da SLN em 2001 e as vendeu em 2003. Ficando claro que não tem rabos de palha no caso, e também não pode ser culpabilizado pelo que colaboradores seus no passado, como José Oliveira e Costa e Dias Loureiro, fizeram, devolveu a responsabilidade do caso BPN ao Governo, que tomou a decisão abrupta de intervir no banco, através da Caixa Geral de Depósitos, em vez de apoiar a solução mais barata e eficaz que o Prof. Miguel Cadilhe lhe apresentou. Cavaco expõe o Governo pela situação actual do BPN, cuja administração liderada por Francisco Bandeira, o socialista amigo de Armando Vara, foi nomeada de acordo com o Governo e é mantida indirectamente pelo Governo, e falhou na criação de confiança dos depositantes, investidores e credores, dissipou os activos do banco, já consumiu 5 mil milhões de euros de dinheiro público e agora ainda pretende mais 500 milhões de euros, em contraste com os exemplos de recuperação de instituições e de devolução de dinheiros públicos na Grã-Bretanha, que Cavaco fez questão de apontar, ou dos EUA (veja-se, por exemplo, o caso da AIG). Pode o Governo alijar a responsabilidade para a Caixa Geral de Depósitos, em 30-12-2010, através da declaração absurda do ministro Silva Pereira, mas ninguém duvida em Portugal de que a solução foi decidida pelo Governo e de que a escolha da administração do BPN foi tratada com o Governo e aprovada pelo Governo, que jamais a criticou e que a mantém apesar dos resultados ruinosos. Aliás, o caso da intervenção e gestão do BPN constitui, por si, e pelo dinheiro afundado (5 mil milhões de euros!), justa causa de despedimento... do Governo, numa altura de escassez de dinheiro do Estado para pagar salários, pensões e subsídios, e apoiar o relançamento da economia.
Sobre a questão da vigilância da Presidência da República (que passou à história sistémica como o caso das escutas...), Cavaco não recuou relativamente ao que (não) disse sobre o assunto, nem admitiu culpas da Presidência ou de colaboradores alvos do sistema. Um líder sabe que jamais deve desproteger os seus homens, nem aceitar culpa para vítimas.
Cavaco demonstrou ainda a irresponsabilidade dos ataques de Manuel Alegre aos credores e investidores da dívida do Estado português, explicando que é o Governo quem precisa deles e não o inverso. Aí tornou-se claro que Manuel Alegre não tem sequer a mínima ideia dos assuntos financeiros e económicos e que se trata apenas de um poeta demagogo, uma espécie de bobo do regime socratino, que disfarça e amortece a má administração do Governo.
Manuel Alegre apresentou-se como um pré-derrotado frustrado, numa pose enfatuada, reclinado atrás na cadeira na posição não-verbal de superioridade e desprezo, reiterada nos esgares de desdém, parecendo mais preocupado em segurar a imagem de celebridade do que em ganhar o debate, por onde passou displicente. Por isso, cometeu erros e não ripostou no tom dramático habitual, afundando-se a confirmar os 5 mil milhões de euros enterrados pela Caixa no BPN (tendo até pedido a Cavaco que confirmasse o valor!...) ou a reservar uma decisão sobre a demissão do Governo e a dissolução do Parlamento, concordando com o que Cavaco Silva havia dito, depois de o acusar de querer substituir o governo socialista para pôr um bloco de direita no poder... Verificou-se ainda o seu desrespeito pela ordem constitucional, obrigando-nos a recordar a sua acção perniciosa de ataque à justiça no processo Casa Pia, quando insiste novamente na submissão do poder judicial ao poder político, através de um pacto que se pretende imunizador do poder. Já mo tinham descrito como desinteressado de matérias e dossiês, confiado apenas no verbo poético inflamado e balofo, inconsequente na política de frases feitas e desconhecedor de economia, administração, direito e áreas da governação. Portanto, enfiado num beco entre o apoio ao Governo ruinoso e o protesto da esquerda, do qual não consegue sair, por vontade sistémica de conforto e imagem, Manuel Alegre prefere curtir o estatuto de vencido-não-convencido, mesmo antes do choque das urnas.
A postura de Cavaco Silva neste debate com Alegre significa uma vontade e genica que pode, finalmente, mobilizar uma campanha. A vitória está consolidada. É bom que o Prof. Cavaco Silva não amacie, nem entorpeça - para que não suceda uma grande vitória em termos percentuais, mas uma significativa redução de votos em termos absolutos face à ultima eleição. O desafio da reforma do regime, que o Chefe de Estado deve liderar, precisa muito mais da mobilização dos apoiantes que criem uma dinâmica de esperança e força pós-eleitoral, que facilitará a mudança, do que da placidez das assembleias de voto vazias e dos consensos obtusos que inibem a acção futura.
Actualização: Este poste foi actualizado às 23:58 de 30-12-2010.
Excelente post. Parabéns, em especial pela forma certeira e incisiva como se refere ao caso BPN.
ResponderEliminarA desvergonha do Governo, evidenciada através das alucinantes declarações do Silva Pereira, é insusceptível de beliscar a justeza das palavras de Cavaco Silva a tal propósito.
No dia 23 de Janeiro, o País saberá ser firme na resposta à troupe de clowns que nos desgoverna. O princípio do fim da corja está próximo, confio.
O BPN vai constituir o nó górdio, que fará vir os Senhores do Fraque. Aliás, ainda falta o BCP.
ResponderEliminarHá momentos em que o melhor mesmo é redermo-nos ao optimismo daquelas pessoas por quem temos simpatia e profunda consideração, mesmo não as conhecendo peesoalmente.
ResponderEliminarPor isso, caro Prof. aceite sem a mais pequena ponta de ironia um sentido e cheio de fé "Assim seja"
Fico-me com a tarefa nem sempre fácil de S. Tomé.
E se,
Cavaco Silva e Manuel Alegre deveriam ir gozar as reformas! Nenhum deles reconhece a responsabilidade sobre este o estado em que nos encontramos...
ResponderEliminarBelo post. Bela análise.
ResponderEliminarIlegalidades no BPN não cometeu, apenas acertou com Sócrates a nacionalização dos prejuízos.
ResponderEliminarEnganar os portugueses
ResponderEliminarhttp://luisbotelho2011.blogspot.com/2010/12/enganar-os-portugueses.html
Recurso apresentado hoje no Tribunal Constitucional pelo Candidato Luís Botelho Ribeiro
http://luisbotelho2011.blogspot.com/2010/12/recurso-apresentado-hoje-no-tribunal.html
Enfim, o último dos debates a dois. O melhor, mais profundo, mais abrangente. O mais (in)tenso. E o mais paradoxal: o Presidente-candidato assertivo, rápido, combativo. O desafiador mais manso, mais hesitante, quase surpreendido com as sucessivas transições (defesa/ataque) do opositor, como se diria em "futebolês".
ResponderEliminarCavaco Silva, ainda que discutível, tem um programa. Tem um rumo e tem convicção. Tem uma carreira sólida, coerente, auditável.
A Manuel Alegre, mais simpático e acessível, falta-lhe profundidade e institucionalidade. É a diferença, não ideológica ou partidária, entre um homem de acção, do povo e para o povo, e um "BCBG".
www.odivademaquiavel.blogspot.com
Que Cavaco é serio a gente sabe. O problema é que ele só está preocupado com a sua imagem de seriedade e só se indigna quando o atacam a ele. O problema é que ele nada faz de combate à corrupção. Nada fez para atender à defesa dos que trabalham. Só se insurgiu com o estatuto dos açores e o casamento gay. O que ele tem a ver com a opção sexual de cada um? porque nada fez para atender às petições a si dirigidas? é sério mas..............não chega. Eu também sou...
ResponderEliminarO prof. cavaco Silva cilindrou o pateta Alegre.
ResponderEliminarMas a imprensa,completamente de cócoras perante o mafioso poder socratino,nada reflecte.
surgem títulos laterais,para desviar a atenção.
Uma podridão esta imprensa corrupta e subserviente aos ratos.
Só não gostei das duas mentiras do PR,chamou doutor ao aldrabão que tinha em frente e engº ao trafulha do Sócrates.
Até ao debate com Alegre tinha decidido abster-me.O novo Cavaco,a maneira como cilindrou o balofo levam-me a ter esperança de novo.Dia 23 vou votar no Cavaco para que Portugal possa sair da desgraça em que os socialistas nos colocaram.
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