A visita do Papa Bento XVI a Portugal, de 11 a 14 de Maio de 2010, é uma honra e uma responsabilidade.
É uma honra à Nação que, no seu âmago, é Fidelíssima, mesmo quando os seus soberanos não são. Já passaram uns anos largos, desde o Motu proprio Maxima ac iam praeclara, de 23 de Dezembro 1748, quando o Papa por sinal também Bento (o XIV) atribuíu a D. João V o tão almejado título de Sua Majestade Fidelíssima. Mas também a Espanha já não é Muito Católica e menos ainda a França Cristianíssima.
É uma responsabilidade para Portugal acolher o Papa Bento XVI, sucessor de Pedro, pai em exercício da Igreja de Cristo. O Papa há-de ser muito bem acolhido pelo povo português, como foi o seu santo antecessor João Paulo II. E creio que não pode deixar de ser bem recebido pelas autoridades do Estado, mesmo quando perseguem objectivos morais fundamentalistas liberais que se conjugam num anti-clericalismo militante.
O povo português tem séculos de oração impregnada: distingue o rebanho das ovelhas tresmalhadas e, no seu íntimo, compreende a imperfeição da Igreja, espelho da sua própria fraqueza humana, ainda que tenha cunho divino, como o próprio Homem, e ainda divide a teologia do pecado da jurisdição do crime, numa aplicação da teoria dos dois mundos, em que se tem de dar a Deus o que é de Deus e o imposto (a pena) é devido a César (o Estado) que deve executar civilmente a vontade do povo. A compreensão dos erros da Igreja é uma oportunidade de emenda nesta altura de ceifa, de separação eficaz do trigo e do joio, e de mudança que não pode ser adiada. No sentido que vem sendo traçado neste pontificado, aguarda-se também uma palavra de tranquilização, reafirmação e confiança, na nova política e prática da Igreja relativa à questão dos abusos sexuais de menores cometidos pelos seus ministros e colaboradores. Como se espera uma mensagem clara de conforto e fé face à dissolução oficial dos costumes.
Os dignitários da Igreja devem ter, nesta altura de tentativa de cerco, um extraordinário cuidado nas declarações públicas que prestem, pois a sensação dominante nos meios hostis é de que tudo o que digam e escrevam pode e deve ser usado contra eles, numa desonestidade de negação de evidências, factos e documentos, e extrapolação de frases (e de excertos de frases...) para uma suposta tolerância ou justificação dos abusos sexuais praticados por clérigos e colaboradores. Uma crítica violenta dessas declarações, apesar da condenação unânime da pedofilia, que contrasta com um silêncio face aos abusos, apontados como mais frequentes do que nos padres católicos, cometidos por clérigos protestantes e de outras igrejas. Uma campanha mediática que se acentua paradoxalmente contra este papado, quando Bento XVI é o pontífice que mais tem feito contra os abusos sexuais de crianças por clérigos e colaboradores!...
O Estado terá de receber bem a Igreja. O máximo representante do Estado é o Presidente da República, católico e conservador, que tende a ver a visita do papa com alegria e como uma benção para o País atribulado. Todavia, neste Portugal empobrecido e submisso, o Estado é quase só o Governo. Um governo, à imagem do seu chefe, colérico mas enfraquecido. Um Governo anti-religião, mas debilitado pelo totalitarismo mediático, pela corrupção e, principalmente, pelo mau desempenho financeiro e económico. Pode até dar-se o caso de que José Sócrates volte a benzer-se publicamente...
Neste quadro de combate contra os valores morais religiosos, a decisão do Governo de decretar tolerância de ponto aos funcionários públicos no mítico 13 de Maio, quinta-feira, uma decisão que costuma ser seguida por muitas instituições e empresas, para quem queira participar nas celebrações no Santuário de Fátima, no ponto mais alto da visita papal, representa respeito pelos católicos portugueses, que são a grande maioria da população. Este ano, os feriados do 25 de Abril e do 1.º de Maio calharam ao fim de semana, portanto, não valia o argumento de que decretar tolerância de ponto no dia 13 de Maio, aumentaria o número de dias feriados face ao normal.
O Governo Sócrates tem usado a agenda fundamentalista liberal - liberalização do aborto a pedido; divórcio na hora, com desprotecção da mulher; favorecimento fiscal e nas subvenções das uniões de facto (registadas ou não) face ao casamento; casamento homossexual, sem referendo (Portugal vai ser o oitavo país do mundo a legalizá-lo, mas o Partido Socialista opôs-se um referendo sobre o assunto); secularização de espaços de igrejas (inclusive de espaços de culto); e limitação da assistência nos hospitais e prisões - para suavizar e congregar sectores descontentes com o desempenho financeiro e económico. O Governo corteja as instituições de poder da Igreja, seja a Rádio Renascença (onde tem a presença, como comentadores residentes, de destacados políticos maçons socialistas...), seja a Universidade Católica. Porém, o Governo e as autarquias ligadas ao Partido Socialista diminuem o apoio às instituições de solidariedade social ligadas à Igreja, enquanto protegem, incentivam e custeiam, a criação de organizações laicas concorrentes, tendo chegado, num caso que conheço, ao cúmulo da afronta de ameaça directa de processo judicial à própria Igreja (!) para recuperar subsídios que lhe foram atribuídos pelos antecessores para a construção de uma obra social.
Contudo, o mau desempenho financeiro, por irresponsabilidade política (por comparação, veja-se o caso irlandês) que está a levar o País à bancarrota, sem conseguir que a economia saia da depressão, fê-lo perder o apoio de sectores da classe média que tinahm visto no cumprimento dos salários e das pensões uma garantia. Um apoio que já estava deteriorado pelo ostensivo totalitarismo mediático (o controlo da quase totalidade dos meios de comunicação social tradicionais pelas forças socialistas ou dependentes) e pela imagem pegajosa de corrupção. Este conjunto de resultados enfraqueceu irremediavelmente o Partido Socialista e, em particular, o primeiro-ministro. Assim, a visita decorre neste quadro de enfraquecimento político do Governo: é o Governo que precisa da indulgência discursiva da Igreja. Por isso, não se crê que o primeiro-ministro tenha condições políticas para dar ordem às forças mediáticas que, directa e indirectamente, são controladas pelo Governo para hostilizar o papa e a Igreja neste momento especial. Mas, se o Papa e a Igreja, antes e durante a visita, forem hostilizados pela comunicação social controlada (quase toda!), ninguém em Portugal terá dúvida de onde veio a ordem.
Pós-Texto (21:47 de 14-4-2010): O nosso amigo Paulo Carvalho do vizinho Poviléu lembra que o dia 13 de Maio, Quinta-Feira de Ascensão, já é feriado em muitas autarquias do país, não constituindo assim uma tão grande redução da produtividade, capaz de afectar o défice português...
Actualizações: este post foi actualizado às 16:39 e 21:47 de 14-4-2010.
* Logótipo da visita do Papa Bento XVI a Portugal, de 11 a 14 de Maio de 2010.
É uma honra à Nação que, no seu âmago, é Fidelíssima, mesmo quando os seus soberanos não são. Já passaram uns anos largos, desde o Motu proprio Maxima ac iam praeclara, de 23 de Dezembro 1748, quando o Papa por sinal também Bento (o XIV) atribuíu a D. João V o tão almejado título de Sua Majestade Fidelíssima. Mas também a Espanha já não é Muito Católica e menos ainda a França Cristianíssima.
É uma responsabilidade para Portugal acolher o Papa Bento XVI, sucessor de Pedro, pai em exercício da Igreja de Cristo. O Papa há-de ser muito bem acolhido pelo povo português, como foi o seu santo antecessor João Paulo II. E creio que não pode deixar de ser bem recebido pelas autoridades do Estado, mesmo quando perseguem objectivos morais fundamentalistas liberais que se conjugam num anti-clericalismo militante.
O povo português tem séculos de oração impregnada: distingue o rebanho das ovelhas tresmalhadas e, no seu íntimo, compreende a imperfeição da Igreja, espelho da sua própria fraqueza humana, ainda que tenha cunho divino, como o próprio Homem, e ainda divide a teologia do pecado da jurisdição do crime, numa aplicação da teoria dos dois mundos, em que se tem de dar a Deus o que é de Deus e o imposto (a pena) é devido a César (o Estado) que deve executar civilmente a vontade do povo. A compreensão dos erros da Igreja é uma oportunidade de emenda nesta altura de ceifa, de separação eficaz do trigo e do joio, e de mudança que não pode ser adiada. No sentido que vem sendo traçado neste pontificado, aguarda-se também uma palavra de tranquilização, reafirmação e confiança, na nova política e prática da Igreja relativa à questão dos abusos sexuais de menores cometidos pelos seus ministros e colaboradores. Como se espera uma mensagem clara de conforto e fé face à dissolução oficial dos costumes.
Os dignitários da Igreja devem ter, nesta altura de tentativa de cerco, um extraordinário cuidado nas declarações públicas que prestem, pois a sensação dominante nos meios hostis é de que tudo o que digam e escrevam pode e deve ser usado contra eles, numa desonestidade de negação de evidências, factos e documentos, e extrapolação de frases (e de excertos de frases...) para uma suposta tolerância ou justificação dos abusos sexuais praticados por clérigos e colaboradores. Uma crítica violenta dessas declarações, apesar da condenação unânime da pedofilia, que contrasta com um silêncio face aos abusos, apontados como mais frequentes do que nos padres católicos, cometidos por clérigos protestantes e de outras igrejas. Uma campanha mediática que se acentua paradoxalmente contra este papado, quando Bento XVI é o pontífice que mais tem feito contra os abusos sexuais de crianças por clérigos e colaboradores!...
O Estado terá de receber bem a Igreja. O máximo representante do Estado é o Presidente da República, católico e conservador, que tende a ver a visita do papa com alegria e como uma benção para o País atribulado. Todavia, neste Portugal empobrecido e submisso, o Estado é quase só o Governo. Um governo, à imagem do seu chefe, colérico mas enfraquecido. Um Governo anti-religião, mas debilitado pelo totalitarismo mediático, pela corrupção e, principalmente, pelo mau desempenho financeiro e económico. Pode até dar-se o caso de que José Sócrates volte a benzer-se publicamente...
Neste quadro de combate contra os valores morais religiosos, a decisão do Governo de decretar tolerância de ponto aos funcionários públicos no mítico 13 de Maio, quinta-feira, uma decisão que costuma ser seguida por muitas instituições e empresas, para quem queira participar nas celebrações no Santuário de Fátima, no ponto mais alto da visita papal, representa respeito pelos católicos portugueses, que são a grande maioria da população. Este ano, os feriados do 25 de Abril e do 1.º de Maio calharam ao fim de semana, portanto, não valia o argumento de que decretar tolerância de ponto no dia 13 de Maio, aumentaria o número de dias feriados face ao normal.
O Governo Sócrates tem usado a agenda fundamentalista liberal - liberalização do aborto a pedido; divórcio na hora, com desprotecção da mulher; favorecimento fiscal e nas subvenções das uniões de facto (registadas ou não) face ao casamento; casamento homossexual, sem referendo (Portugal vai ser o oitavo país do mundo a legalizá-lo, mas o Partido Socialista opôs-se um referendo sobre o assunto); secularização de espaços de igrejas (inclusive de espaços de culto); e limitação da assistência nos hospitais e prisões - para suavizar e congregar sectores descontentes com o desempenho financeiro e económico. O Governo corteja as instituições de poder da Igreja, seja a Rádio Renascença (onde tem a presença, como comentadores residentes, de destacados políticos maçons socialistas...), seja a Universidade Católica. Porém, o Governo e as autarquias ligadas ao Partido Socialista diminuem o apoio às instituições de solidariedade social ligadas à Igreja, enquanto protegem, incentivam e custeiam, a criação de organizações laicas concorrentes, tendo chegado, num caso que conheço, ao cúmulo da afronta de ameaça directa de processo judicial à própria Igreja (!) para recuperar subsídios que lhe foram atribuídos pelos antecessores para a construção de uma obra social.
Contudo, o mau desempenho financeiro, por irresponsabilidade política (por comparação, veja-se o caso irlandês) que está a levar o País à bancarrota, sem conseguir que a economia saia da depressão, fê-lo perder o apoio de sectores da classe média que tinahm visto no cumprimento dos salários e das pensões uma garantia. Um apoio que já estava deteriorado pelo ostensivo totalitarismo mediático (o controlo da quase totalidade dos meios de comunicação social tradicionais pelas forças socialistas ou dependentes) e pela imagem pegajosa de corrupção. Este conjunto de resultados enfraqueceu irremediavelmente o Partido Socialista e, em particular, o primeiro-ministro. Assim, a visita decorre neste quadro de enfraquecimento político do Governo: é o Governo que precisa da indulgência discursiva da Igreja. Por isso, não se crê que o primeiro-ministro tenha condições políticas para dar ordem às forças mediáticas que, directa e indirectamente, são controladas pelo Governo para hostilizar o papa e a Igreja neste momento especial. Mas, se o Papa e a Igreja, antes e durante a visita, forem hostilizados pela comunicação social controlada (quase toda!), ninguém em Portugal terá dúvida de onde veio a ordem.
Pós-Texto (21:47 de 14-4-2010): O nosso amigo Paulo Carvalho do vizinho Poviléu lembra que o dia 13 de Maio, Quinta-Feira de Ascensão, já é feriado em muitas autarquias do país, não constituindo assim uma tão grande redução da produtividade, capaz de afectar o défice português...
Actualizações: este post foi actualizado às 16:39 e 21:47 de 14-4-2010.
* Logótipo da visita do Papa Bento XVI a Portugal, de 11 a 14 de Maio de 2010.
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