domingo, 14 de fevereiro de 2016

Corrupção, bancocracia e alheamento do povo


«That's the world, that's politics. That's how it works. It starts out with big promises and ends up with jackshit happening. But like the man said: "If voting changed anything, they'd make it illegal.»
Jane Bodine (Sandra Bullock) in
Green, David Gordon (realizador), e Straughan, Peter (argumento).(2015).
Our brand is crisis
.
O alheamento das novas gerações face à política tem como motivo principal a inconsequência do voto. A justificação de que os mais jovens não votam por idiossincracia egoísta e preguiçosa das suas coortes e por causa do sustento garantido pelos pais, que continua para lá do momento em que encontram um emprego geralmente mal pago, é uma ilusão autocomplacente dos políticos da corte.

O poder político foi capturado pela bancocracia - corrupção politico-bancária - que é consentida pelo povo carente de subsídios do Estado. Conhecendo a atividade deficitária do Estado, o povo conforma-se com o diktat bancário porque este financia subsídios, salários e pensões - para além da segurança, da saúde e educação, que já foram gratuitas (5.750 euros é quando custam as propinas do 1.º ano do mestrado em Gestão no público ICSTE!...).

Essa subserviência é também aceite, em Portugal, por este executivo do PS, sujeito ao acordo separado com as lideranças do Bloco e do PC, num novo paradigma a estudar pela ciência política, a que podemos chamar um Governo Telefónico: as decisões não são tomadas em conselho de ministros, mas através de consultas telefónicas de interlocutores do PS (Vieira da Silva e afins) com os seus parceiros do Bloco e do PC. Processos de decisão inconstitucionais, opacos, secretos e furtivos, que todavia, têm beneficiado da cumplicidade mediática e do sigilo comprometido da oposição bipartida. 

Como tenho realçado, a submissão do Estado ao diktat político-bancária não radica na ideologia nem na ciência económica. Não assenta na ideologia porque a direita conservadora ou a liberal sempre desconfiou dos bancos e a esquerda sempre os quis estatizados; e nem o socialismo atual, mais monetarista do que keynesiano o justifica. E não se fundamenta na ciência económica, a revisão da crise norte-americana de 1929 continua sem consenso: monetaristas alegam que foi a falta de liquidez que precipitou a crise enquando os austríacos insistem que foi o seu excesso. O helicopter money do quantitative easing parecer ter neutralizado as tensões económicas nos EUA e na Europa, face à produção asiática mais barata, mas as depreciações cambiais provocadas, primeiro no dólar e agora no euro, parecem ter tido maior efeito na economia.

A submissão do Estado ao dikat político-bancário baseia-se na corrupção: na troca de favores e rotação de agentes. Troca de favores com a injeção de dinheiro do Estado em bancos privados mediante troca de comissões e excedendo até o inside trading com a especulação bolsística, através de familiares, de amigos e de compinchas, propiciada por boatos oficiosos para gerar movimentos de pânico nos mercados ou efeitos de valorização de empresas premiadas com contratos. E rotação de agentes com a circulação de políticos, técnicos e gestores, entre a política e os bancos: quando no poder os agentes favorecem os bancos e quando deixam o executivo são recompensados com tachos faustosos para pagamento desses favores que prestaram em prejuízo volumoso do erário público.

O povo parece demasiado viciado no conforto para decidir o sacrifício de se libertar da dívida - mesmo que esse conforto seja decrescente, como é agora. Parece... Um vício só é quebrado pela abstinência, não pela redução de uso.

Não pode ser consentido o desvio de dinheiro do Estado para o socorro de bancos privados falidos pela avidez de administradores impunes por legislação protetora - 450 milhões de euros no BPP, mais 8,3 mil milhões no BPN, mais 9 mil milhões de euros no BES (só em 2015), mais 3 mil milhões no Banif, mais 90 milhões no Efisa. Nem a vigarice da entrada no capital do  empreendimento de luxo de Vale do Lobo e empréstimo (de 200 milhões?) para a ilha artificial Nautilus, que o conselho de administração (todo?) aprovou, ou a irresponsabilização dos seus administradores nas aventuras em Espanha (Banco Simeón, Luso Espanhol e Banco de Extremadura).

Socorro financeiro de milhares de milhões de euros, decididos do dia para a noite, nas costas do povo
, sob a alegação de urgência, sem que o Parlamento de pronuncie, e que descapitaliza o Estado e aumenta a carga fiscal, provocando a morte dos empresários que não conseguem solver dívidas e se penduram, dos velhos que falecem porque não têm dinheiro para aviar medicamentos, dos doentes que não são operados a tempo, a fome de crianças, ou o abandono de universidades por jovens. Quando os caçadores de taxas de juro mais altas, que saltitam para bancos de maior risco, sabem o desafio que jogam e, não devem ser financiados pelos demais.

Bancos falidos devem ser liquidados pelos tribunais
, como as demais empresas, sem que o tesouro público assuma os seus prejuízos, como não recebeu os seus lucros no tempos áureos.

O desvario da corrupção só não é maior porque a União Europeia impõe a sua tutela sobre o orçamento do país. Mas essa tutela externa ainda alheia mais os jovens adultos que percebem que a decisão política não depende do seu voto mas do Conselho Europeu, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu (que aperta o Governo com a compra de mais ou menos obrigações portuguesas e deixa, ou não, subir as taxas de juro do país). Na União Europeia, o poder de Portugal está mais próximo de 1,5% do PIB da União do que dos 3,6 % dos votos (a UE tem agora 28 Estados), dos 2,1% do território e dos 2% da população. A circunstância do País ser melhor governado pelos estrangeiros, a partir de Frankfurt e Bruxelles, do que pelos nacionais, é ainda mais vergonhosa para nós.

Não é a fundação de um novo partido liberal que resolverá o imbroglio. O que pode resolver é continuar a luta de investigar e publicar, neste tempo de negro nublado, de guerra fria interna. Além da teimosia de ensinar e da coragem de tentar fazer. Sacrifício pelos outros. Dádiva. Manter a chama, apesar do vento e da escassez de parafina. Estar preparado. Mesmo sem saber se o nosso tempo de dirigir surge. Nem quando, nem se. Pronto!


Atualização: este poste foi atualizado às 8:02 de 15-2-2016.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

O amparo de Farinho




Revela Felícia Cabrita, no Sol, de 5-2-2016, que «Sócrates pagou a professor para 'ajudar' na tese e no livro». Um excerto:
«Domingos Farinho assumiu ao Sol ter recebido uma avença, paga por uma empresa de Carlos Santos Silva, para ajudar Sócrates na escrita da tese que esteve na base do livro. Mas, para o Ministério Público (MP), este professor catedrático e antigo assessor para a economia de Sócrates é o verdadeiro autor da obra.»
A reportagem concentra-se na autoria do livro «A confiança no mundo», de outubro de 2013. Mas o mais importante não é a autoria do livro, mas a autoria do mémoire de julho desse ano (tal como a sua licenciatura tirada na Farinha Amparo - como dizia Marcelo Rebelo de Sousa)muito provavelmente escrito em português e traduzido depois para francês por alguém que ainda não foi identificado. Quando surgir a acusação do processo Marquês, e a confirmar-se esse facto, é possível que seja extraída uma certidão para envio à Sciences-Po e às autoridades francesas para procederem em conformidade.


* Imagem picada daqui.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Efeitos colaterais da proteção de um ditador

O Prof. Rui Verde (CM, 2-2-2016) tem razäo sobre o fecho da Universidade Independente, em 2007, pelo ministro Mariano Gago, para abafar a licenciatura manhosa de José Sócrates - e jurificar o diploma falso do então primeiro-ministro - e ainda sobre a sua detençäo, oportunamente nas vésperas da amplificação do dossiê so re o curso no Público.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Figueiredo e Centeno

(Atualizado às 18:04 de )


O diretor de informação da TVI, Sérgio Figueiredo é íntimo amigo da família Centeno desde a universidade e a JCP.

Figueiredo está no epicentro do escândalo de notícias alarmantes, de «última hora», em rodapé, da TVI24 sobre o que o Estado preparava para o Banif (em 13-12-2015, domingo, à noite) -
«Banif: A TVI apurou que está tudo preparado para o fecho do banco»:
«A parte boa vai para a Caixa Geral de Depósitos»
«Vai haver perdas para os accionistas e depositantes acima dos 100.000 e muitos despedimentos».
«Banif poderá ser intervencionado esta semana».
- e da subsequente, em 20-12-2015, resolução (2,4 mil milhões de custo para os portugueses) e venda, alegadamente com desconto de 75%, por 150 milhões de euros ao Santander pelo Governo de António Costa.


Pós-Texto (15:01 de 2-2-2016): Figueiredo confirma
Um dia depois deste meu poste, Sérgio Figueiredo publicou, hoje, 2-2-2015, uma oportuna crónica no DN, intitulada «O meu amigo agora é ministro...», na qual admite:
«Mário Centeno foi meu colega de curso, vivemos momentos inesquecíveis nas lutas estudantis, dirigimos uma importante associação de estudantes. Conheço-o, portanto, há 30 anos. Uma vida que cimentou uma amizade que nunca esfriou e, acredito, continuará à prova de bala. Mesmo daquelas balas que, nas funções que agora exercemos, temos de trocar entre nós. Já não houve fogo amigo na resolução do Banif.»
Gestão proativa da informação para esvaziar o balão antes que expluda. Mas o balão já rebentou... Veremos se o sistema consegue abafar o estoiro.